Quem disse que religião, política e fubebol não se discutem?

No popular, houve-se muito que "religião, política e futebol" não se discute (sic). Na verdade, o dizer não incluía o termo "política", ele só foi incorporado mais tarde, pela elite e pelos próprios políticos, a fim de evitar o debate e os questionamentos político entre as pessoas. Dessa forma, sem o debate, como poderia eu estabelecer meu posicionamento e também aprender com o próximo? Debates ajudam a esclarecer, ajudam no ceticismo, no questionamento. Além do mais, não só a política, mas também a religião e o futebol são passíveis de debates, desde que ambas as pessoas estejam dispostas a não somente falar, mas, antes de mais nada, escutar e aprender. Debatamos, então, sim.







10 de dez. de 2009

Sobre a corrupção e a colonização.

Não me surpreende mais os escândalos políticos que insistem em aparecer todos os anos. Propinas, operações com nomes gregos, maracutaias, valeriodutos, mensalão, mensalinhos...Tudo isso não mais me surpreende. Já fico em alerta. Coração acostumado, na verdade, fico matutando de onde herdamos esse malefício. Para o mais novo escândalo - que envolve os três poderes, aliás – tenho uma explicação plausível. A explicação aqui tem fundamento na antropologia.


Nossa sociedade foi criada pelos mais “sérios” cidadãos portugueses: putas, prostitutas, ladrões, bandidos, charlatões, corruptos. Todos condenados, vinham pra cá para cumprir pena imposta pela coroa lusitana. Se pegarmos a definição para a palavra “político”, a impressão que dá , nessas horas, é que ela significa “putas, prostituas, ladrões, bandidos, charlatões, corruptos”. Mas explicação para o fato que está ocorrendo aqui, em Brasília, não vem daí.

No começo, quando fomos descobertos pelos portugueses* (ver nota no rodapé), o Brasil servia apenas para mandar para a Europa a riqueza aqui encontrada. Nosso país era como uma prostituta, cujo, de perna aberta, dava o próprio bem, com um único diferencial: não era cobrado nada pelo favor. Alguns políticos de hoje acham que a relação de clientelismo existente entre o Brasil e Portugal ainda existe. Importaram, então, a figura e, em vez de benesses entre países, benesses entre pessoas.

O grande problema é que, ao ser eleito, o cara acha que é a sociedade que o serve, em vez de ele servir a sociedade, como no caso de Portugal em relação ao Brasil. E é daí que o mandatário começa a misturar as coisas e a achar que público e privado são idênticos. O dinheiro público, então, em vez de servir a sociedade, serve aos ideais próprios e vai parar nas meias, nas malas e as desculpas são a mais esfarrapadas possíveis. Há até aqueles que, sobre a proteção da imagem puritana protestante, abençoe o dinheiro fruto da propina sem nem mesmo se dar conta da reza proferida: “Pai, eu quero te agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos, mas é o teu sangue que nos purifica de todo bem. Pai, nós somos gratos pela vida do Durval, que tem sido um instrumento de benção para nossas vidas, para essa cidade, que o senhor contemple a questão do seu coração”. Bom seria se o sangue do Pai dele o purificasse de todo o mal.

Discordo do Presidente da República, que ontem, dia 9/12/2009, dia de combate à Corrupção, disse que os corruptos têm cara de bonzinhos. Sei em quem eu voto e “as aparências não me enganam não”. Arruda (que muito me lembra o Gargamel, personagem mal que perseguia os Smurphies), Brunelli, Eurides Brito, Leonardo Prudêncio nunca me enganaram.

A minha consciência é da que eu não os coloquei lá. Se a nostalgia de os ter como representante da minha cidade corrói-me, sobrevive em mim o contentamento de nunca ter votado neles. Aliás, até agora, os candidatos em quem votei estão passando ilesos de escândalos. E não fazem mais que a obrigação deles.




*Mentira histórica por dois motivos: primeiro porque aqui já haviam os índios ; segundo, porque os Espanhóis teriam passado pelas Américas antes dos Portugueses. Há ainda um terceiro fator: há uma corrente da história que diz que os chineses já teriam descoberto as Américas bem antes dos portugueses e dos espanhóis.

21 de nov. de 2009

O bolinho de Cristo

Foi no dia da Consciência Negra que, conversando com um amigo recém-chegado da Bahia, fiquei sabendo de mais uma iguaria da terra de todos os santos. Ele me falou que a tal iguaria se chama “Bolinho de Cristo”. Disse-me que é muito bom e que é vendido por uma Igreja Pentecostal, lá na Bahia.

Tenho a sensação de que ser negro já foi mais difícil no Brasil, hoje não é tanto porque quase todos os brasileiros são. E isso aconteceu graças a algumas políticas públicas eficientes. Estamos até mais homogêneos, creio. Ser negro virou agora obrigação, ainda mais para os estudantes: com as cotas existentes nas universidades públicas, tal declaração se tornou até rotineira. Isso porque o “jeitinho brasileiro” percebeu que, ao fazê-la, as chances de angariar uma vaga nas universidades ficam menos remotas. Ao declarar-se negro, mesmo não tendo orgulho disso, passam-se os outros candidatos para trás e a sensação que dá é de que “o mundo é dos espertos”.

Contudo, o que o “jeitinho brasileiro” não pode tirar da gente é a nossa matriz afro-descendente. Nossas histórias, nossas culturas, nossas religiões (mesmo com toda perseguição velada), nossas lutas, nosso orgulho...isso não há quem nos tire, não há jeitinho, não há choro nem vela. Tentar destruir, desqualificar, submeter a nossa história e cultura é um atentado contra toda uma nação. E é isso que uma Igreja Protestante na Bahia está tentando fazer. Explico!

O “bolinho de Cristo” é um nome dado por tal igreja em substituição ao famoso Acarajé. Isso mesmo! A igreja ressignificou o nome de uma especialidade gastronômica afro-brasileira. Custei até a acreditar em tal afronta, mas é a pura verdade. Por que a igreja fez isso, então? Vou tentar explicar.

A palavra acarajé teve sua gênese na palavra àkàrà que significa bola de fogo, Jé significa comer. No português, houve uma junção das duas palavras, que originou então “acarajé” – comer bola de fogo. Quem já experimentou a iguaria sabe o porquê. O acarajé, o principal atrativo no tabuleiro, é um bolinho característico do candomblé. Sua origem é explicada por um mito sobre a relação de Xangô com suas esposas,Oxum e Iansã. O bolinho se tornou, assim, uma oferenda a esses orixás.

É falar em oferenda que os cabelos arrepiam. As perseguições seculares contra a religiões de matrizes africanas explicam o porquê de mudar um nome de uma comida afro-brasileira. Mesmo na Bahia, lugar de maior concentração afro-descendente no Brasil, não se pode declarar professar religiões como o camdomblé. Caso a faça, as perseguições e as chacotas serão legitimadas. Por ser uma oferenda aos deuses de matriz africana, a Igreja teve a idéia, então, de mudar o nome do bolinho, e assim o eurocentrismo vai ocupando os espaços, afinal de contas o protestantismo é europeu. Para não deixar de comer o ACARAJÉ, que é muito gostoso, muda-se o nome, assim fica mais fácil.

Diante de tal fato, fica evidente a perseguição religiosa num país em que a Constituição garante a liberdade de crença e a proteção aos cultos. É aqui, onde os preconceitos são espalhados boca-a-boca, que se diz que Macumba é má porque começa com “ma”, preconceito totalmente esvaziado de significação e arragaido de maldade (aliás todos os preconceitos são esvaziados de significação e maldozos). É aqui que se diz que segunda-feira é dia de “branco”, em desfavor dos negros que também trabalham e que tiveram um papel protagonista na construção deste país e, sobretudo, na implementação de direitos desta nação. É aqui, onde as negras são chamadas de mulatas. Mulata tem matriz na palavra mula. Mula não pode procriar, ou seja, elas não constituem família por serem estéril. É nessa similaridade que se diz (por baixo) que as negras não servem para casar, para procriar e constituir família. Usa-as, então, e depois joga-as fora.

A minha consciência e o meu orgulho é de ser negro, mesmo diante dos obstáculos obscuros que se escondem atrás cara de um país supostamente democrático. E é neste dia, no dia da Consciência Negra, que me reforço de coragem.


VIVA O ACARAJÉ!

26 de out. de 2009

O impotente!

Quase sempre é ruim fazer as coisas com a cabeça “quente”. Nessas horas, para quem redige, a pessoa acaba escrevendo o que não deveria, e corre o risco de magoar muita gente ou de se fundar em opiniões impróprias. Por outro lado, escrever nesse estado faz com que a pessoa emita a sua opinião mais verdadeira sobre, por exemplo, o que acha do mundo, das pessoas, da hipocrisia.

Antes de acontecer qualquer mal com a gente, nunca esperamos mesmo que isso um dia acontecerá conosco. Assistimos aos noticiários e, dispersos, não damos nem atenção aos fatos. Corriqueiros que são, caímos no mundo da mesmice e dos conformados. É assim que atos violentos – assaltos, estupros, assassinatos – se tornam, de uma certa forma, normalidades: afinal de contas, “pimenta no olho do outro é refresco”. Mas um dia acontece e é aí que a vítima cai no mundo da realidade.

No dia, 23/10/2009, fui assaltado. Esse dia, creio, nunca esquecerei. Fui abordado por dois rapazes, que me renderam, levaram meu carro, carteira com vários documentos, celular. Mas, mesmo perdendo todos os bens, sinto-me privilegiado por não ter sido vítima de um seqüestro. Não me bateram - coisa normal -, apenas levaram meus bens. Por mais que tenha passado por este sufoco, ainda assim agradeço por não ter acontecido algo pior: “as coisas nunca estão tão ruins que não possam piorar”. Mas a sensação de impotência incomoda. No momento, é de se chegar a pensar “o que eu sou?” E a vítima acaba chegando à conclusão de que não é nada mesmo. Percebe-se que, mesmo desempenhado o papel de cidadão, pagando imposto e tributos à vontade, não há, não existe segurança alguma, entre outras coisas. A angústia toma conta de si e a sensação de vazio arruína.

E no outro dia, você acorda pensando estar sonhando: “não é possível que isso aconteceu comigo, sou mesmo um impotente!”. E as indagações, as perguntas, os esclarecimentos contínuos e insistentes fadigam.

Coisas simples da vida são obstadas: levantar, pegar seu carro e ir trabalhar; ou deixar seu carro no estacionamento e pegar o metrô, ir à academia, ligar para um companheiro, sair com amigos. Todas essas coisas, corriqueiras, e até simples na vida de qualquer um são tomadas de um valor inimaginável. Coisas simples, mas que só se percebe o quão é importante, quando a ordem é quebrada e alguém o impediu de fazer isso: a beira é mesmo da loucura.

E o que eu fiz de errado? Deixa que eu mesmo respondo: não fiz nada errado. É um direito meu parar em qualquer lugar, é um direito meu como cidadão. O que acontece é que a ordem das coisas se inverte nessa hora: o “vacilão” é o cidadão, é quem está assaltando fez apenas seu papel. Eu não posso imaginar que um direito meu possa ser cerceado e que, ainda assim, eu passe a ser o culpado da história. É esta sensação de medo que faz com que nos tranquemos em grades, condomínios - presos feito culpados. Essa sensação enjaula o cidadão de bem e deixa o marginal à deriva, com toda a liberdade do mundo. E o fato de não ter acontecido algo pior faz até levantarmos a mão para o céu e agradecer, como o se o pior ainda não tivesse acontecido. Os bandidos viram até anjo.

Não, não quero mais responder onde eu estava parado, com quem, em qual lugar. Posso parar e conversar em qualquer lugar, isso é um direito meu e de todos os cidadãos de bem, ao mesmo tempo que é dever do estado oferecer segurança e proteção. Não invertam a ordem das coisas: bandidos, marginais, ladrões, gaturnos são eles e não eu.

15 de out. de 2009

Pelo seu dia, Professor, Parabéns!

Lembro-me de quase todos os meus professores. Lembro-me da Professora Carmem, do Miguel, da Julmar, do Fernando, da Ângela, do Magela, do Léo, do Zé Maria, do Geraldo. Todos mestres nos meus ensinos fundamental e médio. Lembro-me de muitos professores, assim como me esqueci o nome de muitos. Mas o fato de eu ter esquecido o nome não significa que eles não foram importantes na minha vida, como dizem. Certamente, todos eles trouxeram algum tipo de contribuição, aprendizado que levo pelo resto da minha vida. Lembro também dos educadores do meu curso superior, a contribuição deles também foi fundamental: Grazy, Tamar, Adelaide, Upale, Djiby, Marcelo, Marcos . Concordo em dizer que os nomes citados são, geralmente, dos professores que foram mais exigentes, àquela época. Lembro-me do Mestre Marcos Pacco.


O fato é que demorei, mas aprendi a respeitar, mesmo que tardio, a todos eles – até porque me incluo no rol. Mas não só por isso: é que hoje tenho a plena consciência de que o professor/educador é o ser mais importante do mundo. Pena que a maioria da sociedade não consiga enxergar por esse lado.

Pelo clima de insegurança, pela violência, pela criminalidade, acabam incutindo na cabeça do povo que funções policiais, judiciais e de promotoria são as mais importantes no Brasil. O pior é que acabam sendo mesmo: afinal de contas, de imediato, tem de haver um policial e não um professor para colocar atrás das grades o marginal. E é justamente a marginalidade que tem sido fonte de destaque nas mídias brasileiras. Isso faz com que o delegado, o agente de polícia, o juiz, o promotor sejam os “protagonistas” da sociedade. Esquece-se, então, que - em vez de prender – é muito mais vantajoso educar para evitar que o jovem se marginalize e seja preso no futuro.

O Professor é o ser mais importante do mundo sim. Quantos professores passaram na vida de um delegado de polícia? Com certeza, vários. E quantos ensinaram o juiz de direito? E quantos lecionaram para o promotor de justiça? E quantos ensinaram um médico até o momento da formatura? Então por quê a profissão não é tão valorizada quanto as que citei? Não é valorizada porque não existe uma política pública de valorização profissional e – sobretudo – porque a educação não é prioridade da sociedade. Com isso, joga-se a responsabilidade e o futuro de um país nas mãos da polícia.

Não tenho nada contra a polícia e nem contra os poderes institucionais, são realmente profissões de risco e essenciais à democracia. Mas qual foi o país no mundo que conseguiu um bom desenvolvimento que não fosse por meio da educação? Por meio da educação, evitar-se-ia o banho de sangue que lava as cidades brasileiras num todo. Evitar-se-ia o rolo compressor que é a bandidagem, que varre os jovens, um por um, num jogo infindável. É com um bom investimento na base (por exemplo, a Coréia do Sul), nas séries iniciais, que se desenvolve o futuro cidadão, consciente de suas responsabilidades e que não se transviará por caminhos escusos e obscuros. Por trás de tudo isso, está a figura do professor, como um facilitador dos meios a serem percorridos.

Por tudo isso, falo que o professor é o ser mais importante do mundo: é por meio dele que os seres mais importantes se tornam mais importantes. Mesmo um torneiro mecânico, tornou-se torneiro mecânico por causa de um professor que o ensinou a profissão. Vez ou outra, torneiros mecânicos se tornam Presidentes da República.

Pelo seu dia, Professor, pela sua importância para o mundo, pelo que sou hoje graças a todos Vocês, Parabéns!

11 de out. de 2009

Perfeição

Meu mundo é repleto de desacertos:

Eu nunca estou completo,
Meus estudos nunca acabam,
Minhas angústias são perenes,
E elas não se comparam.

E os acertos são erros
E os erros são mais erros ainda
Eu não acerto o certo
E o erro suplica.

Mesmo eu não consigo entender
O fato de não compreender
Que os meus erros implicam acertos
E o fato dos acertos não serem perfeitos.

É que a perfeição
Assim como a paixão
Passa longe do meu ser
Assim como meu querer.

9 de out. de 2009

Entrecaminhos - à minha filha.

(uma homenagem à minha filha)

Abriu os olhos ao me perceber,
Olhou pra mim, no berço do leito,
Olhos cinzas,
No seio.


Ao lado, materna.
Retinas reluzentes,
Marinheira de primeira viagem.
Saudades!

E engatinhava - Modo diferente,
Acidentava
Chorava
Esperniava
Perguntava.

Cresceu,
Hoje é maior que a tia
A avó,
A prima.

Criança-adolescente:
perene

Adidas
All-star
Celular.

Nada a declarar, Ohana.

5 de out. de 2009

Uma reza.

Guarda teu nome,
Teutônico.
Otimista e afetuosa que és, enobreça teu círculo de amizades.
Conquiste o que quiseres,use teu charme.
Tua juventude e plenitude advêm de Tua descontração e humor.
Não as jogue fora, se for.
És plena.


Mas o teu amor de autodestrói.
Cega, embaça, embaraça
Atrapalha, corrói.

Cura-te do teu amor, portanto.
Cura-te dele.
Seja-te, no entanto.

Escreva, saia do mundo.
Esqueça-se.
Fotos, palavras, músicas...Imaginação.
Projete sua imagem.
Seja iluminada,
Para que não veja apenas o vão.

cura-te do teu amor, que te autodestrói,
e serás mais iluminada e leve.
Seja leve e serás mais feliz.
Seja feliz e serás mais você.

Guarda teu nome.
Seja otimista.
Seja plena.
Cura teu amor.

Amém!

2 de out. de 2009

Minhas besteiras

Hoje é sexta-feira, 2/10/09. Sem muita inspiração nas áreas de que gosto de falar, resolvi – então – me descontrair e escrever algo que eu já tinha uma certa curiosidade. Besteiras, mas vou tentar escrever sobre. É que há alguns nomes próprios os quais fazemos um certo esforço para falá-los. Há uns em que fazemos até uma certa careta, biquinhos. Outros faltam tirar a mandíbula do lugar, outros fazem com que a boca faça um movimento tipo para frente, para trás, para trás, para frente. Citarei alguns nomes e os respectivos movimentos. Não fiquem com ciúmes se por um acaso eu não citar o seu, mande-o via comentários que farei uma análise aprofundada do caso. Façam o teste, então. Vamos lá:

Rodrigo – biquinho pra frente, boca entreaberta pra trás, biquinho pra frente. É uma dança da boca.

Cleber – boca pra trás entreaberta, boca mais pra trás e mais aberta ainda. A pessoa fica com um jeito de babaca.

Luana – biquinho pra frente fechado, boca pra trás entreaberta, boca mais pra trás ainda e mais aberta ainda. A sensação aqui é de que a coisa começa de mansinho.

Hélio – boca pra trás bastante aberta, biquinho pra frente fechado. Na parte do “lio”, dá-se a impressão de que estamos num escorregador.

Léo – boca rumo à testa, boca rumo ao queixo. O movimento é brusco.

Ingrid – meio biquinho pra frente, meio biquinho de novo, meio biquinho outra vez. Uma coisa meio que afrancesada.

Maristela – boca bem aberta, boca meio fechada, boca um pouco mais fechada, boca morta. Perceberam? Na última sílaba, a boca já está morgada.

Flávio – boca aberta e a língua atrapalhando, biquinho rapidamente pra frente e pra trás. É uma música para os ouvidos.

Monique – biquinho pra frente, depois pra trás, depois pra frente. É uma valsa, daquelas que dançamos nos aniversários de quinze anos: entre ano, sai ano e a música é mesma.

Núbia – na primeira sílaba, o biquinho é extremamente pra frente, ao passo que a pessoa solta a boca e ela acaba terminando aberta e pra trás. A impressão que dá é a de que estamos num balanço.

Magela - pra pronunciar este nome tem de ter fôlego, a boca fica sempre aberta. Além do que lembra beringela.

Washington - é um abre e fecha danado, biquinho vai, biquinho vem. Se você inventar de falar esse nome com com a letra g - washinGUIton - é bem capaz de morrer sufocado com a própria saliva.

E pra Pra fechar:

Dorival – tudo normal até chegar na sílaba “val”. O movimento para as extremidades é tão brusco na última sílaba que a boca falta sair da cara. Cuidado ao fazer o teste, a mandíbula pode sair do lugar e isso dói. Com o nome Venceslau é a mesma coisa.

1 de out. de 2009

Formei-me, agora vou atrás de enricar!

A cada dia que passa, a responsabilidade social da educação superior se deterioriza. O negócio mesmo é consumir, vender, exportar, ganhar dinheiro mesmo que para isso a qualidade de vida do cidadão desça esgoto abaixo. Conscientizar jovens formandos e formados não tem sido mais o papel das muitas faculdades e universidades espalhadas Brasil a fora.

Outro dia, li um artigo do Professor-Senador Cristovam Buarque em que ele falava justamente do que uma amiga minha, recém-formada em nutrição, numa boa conversa em que tive com ela, dizia: “quero ganhar é dinheiro!” Não que eu seja contra o “ganhar dinheiro”, todos têm de encontrar um jeito de se manter financeiramente, ainda mais em um pais totalmente consumista. Entretanto, creio que o fito de uma educação superior não seja apenas angariar dividendos para si, os cursos superiores também têm de estar voltados para o bem comum, para o social. Cristovam, naquela oportunidade, levantou uma questão intrigante sobre o assunto, dizia ele: “Nutricionistas estão preocupados em emagrecer ricos, em vez de engordar os pobres!”.

O pior que é verdade. São raros os profissionais que voltam uma parcela do seu tempo para se dedicar a uma atividade com o fim de tentar diminuir a desigualdade social e todas as chagas que advém dela. Aqui, não se fala só de nutricionistas, os problemas brasileiros são muitos. A falta de moradia é outro exemplo. Mas, mesmo assim, formam-se arquitetos para que eles projetem mansões para poucos, no lugar de elaborar projetos para se construir casas populares para muitos. Apesar de a Constituição garantir um julgamento justo e uma ampla defesa, há Estados no Brasil que ainda não oferecem o serviço de Advocacia Pública. Enquanto isso, as cadeias superlotadas estão repletas de presos que se quer tiveram direito ao um devido processo legal. E cadê a responsabilidade social do curso de direito? Não há. O que se quer mesmo é formar belos advogados, voltados para causa dos abastardos, ou se formar para conseguir ser um juiz de direito, promotor, analista de algum órgão. A culpa é do caminho em que a educação está seguindo.

Ao que parece, o Estado, ajoelhado ao capitalismo e ao consumismo exarcebado e gratuito, esquece de vez aquela história do estado bem-estar-social: questões voltadas para o bem de todos – educação, saúde, segurança, lazer, aposentadoria – parecem não ser mais prioridades dos governos. E junto com o esquecimento do Estado, que deve se voltar aos seus cidadãos, está também o esquecimento de um dos trunfos da educação: conscientização.

Fora todos os esforços que estão sendo feito a fim de que haja um ensino universal, abrangente e de qualidade, faz-se necessário também uma reformulação nos princípios pedagógicos que regem a formação do profissional com curso superior. Assim, quem sabe no futuro, tenhamos mais pessoas preocupadas também com a sociedade num todo. Como conseqüência de pessoas mais conscientizadas, haverá também uma redução na desigualdade social, o que significa – sem sombra de dúvidas - mais inclusão e mais acesso aos bens básicos. Deixemos, então, mais a teoria e partamos para prática.

30 de set. de 2009

PROTAGONISTAS AZEVICHE

A mais recente novela das 20h, que passa na verdade às 21h, vem causando uma certa “inquietação”. É que a protagonista da novela é negra, personagem Helena, interpretada por Taís Araújo. Além disso, ela vive um romance com o personagem Marcos, que é interpretado por José Mayer, pele clara, galã.

É de se causar estranheza mesmo, afinal de contas somos acostumados a ver e temos no nosso “inconsciente” negros no papel de escravos ou serviçais. E mais, neste nosso pais heterogêneo, onde os preconceitos são velados (esfumato), não é possível se construir famílias heterogêneas: brancos constituem família com brancos, negros constituem família com negros, tudo de acordo com a oportunidade e conveniência. Percebi isso dentro do metrô, meu transporte preferido. Como já tinha dito antes, sou muito dado às conversas alheias e, assim, acabei aguçando meus tímpanos quando algumas senhoritas falavam que o casal de pombinhos não combinava. O curioso é que, ao mesmo tempo, elas não davam explicação do porquê da falta de combinação: “ah, sei lá. Eles não combina (sic)!”.

Primeiro, esclareço que não é a primeira vez que negros são protagonista. Houve outras vezes, geralmente como escravos. Segundo, lembro que esse protagonismo não aconteceu na novela “Escrava Isaura”, baseada no na obra de mesmo nome, de Bernardo Guimarães. Isaura era educada, de caráter nobre, e, portanto, branca. Terceiro, vi na conversa das senhoritas uma brecha para tratar de outro assunto também importante e que sem sombra de dúvidas reflete na falta de protagonismo dos negros: a educação.

Começo com uma pergunta simples: quantas vezes você, leitor deste blog, tratou sua saúde com um médico negro? Dou minha resposta: não fui tratado por nenhum. Mas, se você, caro leitor, já conseguiu ser tratado por um médico negro, mesmo assim digo-te que a situação é preocupante. Certamente, umas três ou quatro ou cinco dezenas de médicos já tratou de sua saúde e apenas um era negro.
Vou engrossar o caldo: você já tratou da sua saúde bucal com algum dentista negro? Quantos generais, almirantes, brigadeiros, coronéis negros você, caro leitor, já viu dando alguma entrevista? Quantos negros há na Câmara dos Deputados e no Senado Federal? Quantos promotores de justiça negros você já viu? Você, caro leitor, conhece ou já viu algum juiz de direito negro? Bom! Eu já vi um juiz de direito negro, o nome dele é Joaquim Barbosa, Ministro do Supremo Tribunal Federal, máxima corte deste país. Ele é o primeiro ministro negro do STF e é um entre onze. Se Fossem entre 10 ministros, ele seria, estatisticamente, um por cento dos juízes daquela casa, mas lá são onze, o que diminui mais ainda a porcentagem. E o nosso pais é um “pais de todos”, e “o preconceito não existe”.

Você, caro leitor, já deve ter percebido que as perguntas que fiz lá em cima referem-se à maioria a profissões protagonistas, profissões de alto escalão e que para chegar lá, sem sombra de dúvida, faz-se necessária uma boa educação. O problema é que o ensino público não oferece uma base estudos necessária para se chegar no objetivo almejado e, assim, os sonhos vão sendo deixados de lado aos poucos. Ao perguntar a grande parte das crianças o que elas ‘querem ser quando crescer’, a resposta é, certamente, “médico”. O que acontece no lapso temporal entre a infância e o vestibular que impede a criança de concretizar seus sonhos? Justamente a falta de uma boa educação.
Dessa forma, digo que a boa educação tem de ser democratizada, ela tem de ampliar os seus tentáculos e englobar a outra parte da população e para isso tem de haver políticas públicas voltadas para inserção não só dos negros, mas da população de baixa renda nas universidades públicas. E qual é a política pública que viabiliza e minimiza uma parte do problema? As cotas.

É claro que sou a favor da inserção de todos de baixa renda no ensino superior, mas também tenho a plena consciência de que as cotas só para negros não interferem no processo da globalização do ensino, ao passo que o projeto pode futuramente ser melhorado sem que haja interrompimento. Sobretudo, falar que não existe uma separação entre negros e brancos no Brasil é retórica fraca de supostos intelectuais: certamente, não existe as raças brancas e negras, existe a raça humana, isso segundo a teoria acadêmica e segundo minhas convicções também. Mas, segundo a polícia, um negro e um branco é facilmente diferenciado.

Estou convicto de que o processo de cotas trará resultados a longo prazo. Quem sabe daqui a 10 anos eu possa me consultar com um médico negro ou ver o alto escalão da administração pública mais democratizado e mais heterogêneo. E, a partir desse processo de inserção, não nos fique reservado apenas os serviços domésticos. Quem sabe com isso não nos seja tão estranho um negro como protagonista de uma novela. Quem sabe eu possa, mesmo nos outdoors, ver fotos de famílias também heterogêneas: ao dar as mãos, um negro e um branco, a sobra deles reflete a mesma cor.

17 de set. de 2009

O Reino Proibido

Esta semana assistir a um filme chamado “O Reino Proibido”. Tinha curiosidade em vê-lo desde que estava em cartaz, nos cinemas, devido a um certo fascínio que tenho por filmes lendários, mas também por filmes de artes marciais. Lembro-me dos filmes do Shaolin que assisti quando criança: vôos sobre árvores e águas, equilíbrio sobre bambus, lutas no ar e todas aquelas batalhas alegórias que permeiam os filmes chineses. Lembro-me do filme do Bruce Lee que só mudava o título, mas o filme era o mesmo: mãos de tigre, garras de aço, punhos de ferro...o filme era o mesmo. Creio que o nome certo era mesmo “garras de aço”, pois o inimigo do Bruce Lee não tinha uma das mãos, ao passo que ele adaptava uma garra para lutar. Ele até deixou uma marca nos peitos do herói.

Voltando ao “Reino Proibido”, devo informar que o filme é um mistura de kung fu com karatê kid, adicionado a outro filme dos anos 80: “O último Dragão”, que tinha como personagem principal Leroy. Essa mistura de filmes, deixou o “Reino” um tanto sem graça, não fosse a mensagem política e a apoderação de cultura que ele traz em seu bojo. Mais uma vez, a humanidade fica dependente de um estadudinense. Em outra oportunidade, assisti a um filme em que um Presidente norte-americano salvou-nos a todos e o planeta de ataques de Et’s, no dia da independência norte-americana: às vezes, pego-me imaginando o ex-presidente Jorge W. Bush subindo numa nave de combate, um F-19, por exemplo, e salvando a humanidade. Creio que ninguém mais o agüentaria.

Fora isso, fico impressionado com a capacidade de os norte-americanos aprenderem, assimilarem e, sobretudo, apoderarem-se da cultura alheia em um curto espaço de tempo. Foi assim no filme “O Último Samurai”. Apesar de os samurais treinarem desde criança para aprender a esgrima, o capitão Nathan Algren (Tom Cruise), logo que foi aprisionado pelos próprios samurais, adquiriu conhecimento para manejar a katana (espada), e para isso levou só alguns meses para aprender o que os nativos daquela terra levam a vida toda. Mais que isso, no final do filme, fiquei surpreso ao saber que o último samurai não era um japonês, mas um americano.

A linha de pensamento de o “Reino Proibido” é quase a mesma: o rapaz, com cara de menino, protagonista, americano, do nada começa a lutar com vários inimigos. E apesar de não saber nada de artes marciais, sai dando chutes e pontapés em todo mundo que passa pela frente. No final, quem mata o antagonista é justamente ele, embora um lutador lendário (oriental) tenha tido um combate feroz com o inimigo. Daí, pergunto: por que o lendário lutador não matou o antagonista? Deixa que eu mesmo respondo. Pode ser porque o lendário lutador era uma asiático; mais precisamente, um chinês. a China é hoje a maior ameaça ao poderio americano, ao passo que não pegaria bem um chinês ser o salvador do mundo. Melhor que seja mesmo um estadudinense.

A cultura, dessa forma, é que deveria ser o “reino proibido”, ela deveria ser instransponível. O respeito a ela e às pessoas deveria estar acima de qualquer coisa, ainda mais da forma como são tratadas nos filmes Hollywoodianos, de forma leviana. Vale lembrar que latino-americanos, asiáticos, africanos, cubanos aparecem, em filmes americanos, como marginais. Eles são, geralmente, os traficantes, bandidos, assassinos. E isso é tão comum nesses filmes que nos passa despercebido. O filme Bad boys 2 é só mais um exemplo do que os americanos pensam de quase todo o resto do mundo e também de objetivos a ser conquistado: no final do filme, os agentes americanos entram na Ilha de Cuba, sem permissão do Governo Cubano, para pegar os marginais, que são latino-americanos: uma forma velada de flagrante invasão, um sonho ainda não realizado por eles.

E mesmo que um americano seja um ladrão, mesmo assim ele se transforma em herói: Indiana Jones não passa de um saqueador de tesouros dos outros povos, o que, implicitamente, mostra a visão dos americanos em relação aos outros Estados Soberanos: se não for por bem, vai por mal. O filme mostra qual a política adotada pelo governo norte-americano quando o assunto é, por exemplo, o petróleo. Forjam-se provas, justifica-se uma guerra, com intuito de estabelecer a “democracia” no país alheio, mas no fim o que se quer é a riqueza do vizinho. Tudo em nome da salvação do planeta.

Diante de todos os casos citados acima, acredito que tudo não passa de questões políticas e apoderamento dos costumes alheios. Defensor ferrenho das culturas, acredito que elas são intangíveis, "imexíveis" (numa expressão mais chula). E, mesmo que as barreiras culturais estejam sendo dissolvidas pela globalização e as distâncias estejam sendo encurtadas, os traços, as características e a história de um povo não são dados a conquistas por outra cultura. É possível sim aprendermos com o outro , mas nunca ocupar o lugar dele em suas raízes. Só nos filmes mesmo.

11 de set. de 2009

Sobre Clichy-sous-Bois e Heliópoles

Há algum tempo queria falar sobre o que está acontecendo na favela de Heliópoles. Mas me achei sem informação suficiente para emitir um juízo de valor; afinal de contas, até então, não se sabia de qual arma havia saído a munição que havia matado a jovem de 17 anos, Ana Cristina Macedo. Até então, porque o resultado do laudo balístico saiu e, para a minha surpresa, quem efetuou o disparo que matou a jovem foi um policial. Quanta surpresa!

Dado os fatos e mais toda a reprimenda que a população que vive nas periferias sofre, é justo os protestos dos moradores de Heliópoles. E mesmo que não tivesse acontecido o assassinato, mesmo assim os protestos seriam legítimos. Indigna é a imprensa brasileira, que há tempos noticia somente o que a interessa, não procura aprofundar a questão: será mesmo que algum repórter procurou saber dos próprios moradores qual a opinião deles? Na favela de Heliópoles há escolas suficientes para formar jovens para o mercado de trabalho? Há lá postos de saúde que atenda às necessidades da população? Há segurança? Há um mínimo de saneamento básico? Há lazer? De fato, todas essas indagações acima são antigas, mas elas persistem e creio que, enquanto não houver uma solução para todas elas, será legítima as ações de cidadãos que moram nas favelas Brasil a fora. Falo cidadãos, porque a imprensa insisti em chamar aquelas pessoas de vândalos ou marginais. Marginais são sim, estão à margem da sociedade por falta de política pública que viabilize a emancipação e o desenvolvimento daquele povo.

Essa falta de aprofundamento nas questões fez-me lembrar uma revolta que aconteceu e começou em Clichy-sous-Bois, na França, em 2005. À época, dois jovens morreram ao tentar se esconder da polícia, que os perseguia, dentro de um transformador de alta tensão. Os jovens morreram eletrocutados. O fato serviu de estopim para uma onda de protestos em quase toda as periferias da França.

A impressa brasileira, com toda sua “imparcialidade”, retratava os fatos de forma vazia. Dizia – com as mesmas palavras dirigidas aos moradores de Heliópoles – que vândalos e marginais atearam fogo em carros e escolas, mas não procurava entender o porquê do atear fogo em carros e escolas, até porque assim fica muito mais fácil e é muito mais eficaz de se manipular a opinião dos leitores e dos telespectadores, alienando-nos, fazendo um certo “terrorismo midiático”. Explico.

O ato de atear fogo em carro e em escolas, na França, não era apenas uma questão de vandalismo esvaziada de significação. Por que carros e escolas? Carros para atingir justamente o símbolo do capitalismo e do consumismo exarcebado. Nada representa tão bem hoje o consumismo desenfreado que o veículo automotor. Ele exerce um fascínio e dá uma sensação de poder: quem tem o melhor é o mais endinheirado e, portanto, terá mais acesso às coisas do poder. E quando o carro fica ultrapassado é só trocá-lo por outro do ano que assim mantém-se o poder perenemente. E escolas? Incendiar escolas significava mostrar que era por causa delas que aqueles jovens estavam sendo oprimidos. Sem um ensino universal e de qualidade não há como sobreviver em mundo capitalista. A escola representa, hoje, a liberdade ou não do cidadão. É por ela que se adquirirá conhecimento de causa, que refletirá mais tarde nas urnas, por exemplo.É por ela que se conseguirá um conhecimento metodológico imprescindível para o mercado de trabalho. Caso não haja acesso a uma escola com boa qualidade de ensino, não há como competir numa boa vaga de emprego, o que acaba te levando a um sub-emprego e, conseqüentemente, à periferia (novas formas de escravidão). Isso acontece lá e aqui também, por “mera coincidência”. As revoltas serviram, ainda, para mostrar ao mundo que existe favela em países europeus, ao contrário do que se era noticiados até então.

Há mais em comum entre Brasil e França do que se imagina: os atos propagados pelos moradores dos subúrbios francês foram contidos por meio da força bruta policial – assim como em Heliópoles.

Não custa nada lembrar, além do mais, que o Ministro do Interior daquela nação, à época, responsável direto pelas contenções aos revoltosos é hoje o tão conhecido Nicola Sarkozy, amigo do Brasil. E o fato de ter contido as revoltas à base da cacetada, adicionado à ajuda financeira da burguesia francesa o fez popular e, assim, ganhar as eleições.

Ao prestarmos atenção nas notícias, quaisquer que sejam, até mesmo às distorções ou meias verdades sensacionalistas que passam como informação na grande imprensa, perceberemos que vivemos num momento complexo e aparentemente louco. A nossa própria vida pode parecer terrivelmente complicada, às vezes; como se os conflitos fossem insolúveis.

8 de set. de 2009

Vanusa - a minha musa.

Gosto de política, de estudá-la, de tentar entender as maracutaias, as jogatinas, os conluios. Já falei isso em outras oportunidades e repito. Mas sei que, se continuar batendo nesta tecla, corro o risco de deixar o meu espaço democrático meio que “batido” demais, sempre com as mesmas opiniões. Isso irrita, de certa forma. O problema é que a política (os políticos, aliás) são sempre fontes inesgotáveis para minhas inspirações, para minhas reverberações, e já faz algum tempo que, por meio das palavras, tento – de certa forma – constrangê-los. Constranger no melhor sentido da palavra, “tolher”, “obrigar pela força” a terem o mínimo de moral e de ética. Até hoje não consegui, nem eu e nem ninguém. Ninguém vírgula! A Cantora Vanusa, que rima até com musa, conseguiu.

Vanusa, assim como Roberto Carlos, Erasmos Carlos e Wanderléia, foi uma expoente da jovem guarda, aquela rapaziada que cantava “ era um biquíni de bolinha amarelinha”, meu calhambeque, bi bi!”, “tomo um banho de lua”, enquanto o cacetete da ditadura massacrava o povo brasileiro. Creio que eles não moravam no Brasil na época, pareciam que estavam em outro mundo ou a ditadura militar não os atingiu, por algum motivo. Fico com este último. Mas tudo bem! Nunca os tinha tido como ídolos, nem heróis, até porquê a época era outra, mas – mesmo assim – faço questão de escrever sobre os fatos só a título de informação.

Até então, Vanusa não fazia parte da minha galeria de ídolos...até então! Pois não foi que ela entrou? Está ao lado do Ernesto Guevara, de Marighela, de Lamarca, Rosseau, Sérgio Buarque, de Chico Buarque, de Gilberto Gil, de Elis Regina e de tantos outros. Ela agora faz parte deste rol. E faz bem!

É que outro dia ela conseguiu aquilo que eu mais sonhara: tentar deixar com vergonha os políticos. E ela conseguiu com algo que eu nunca imaginara usar: o hino nacional. Com uma interpretação impecável, que muito me lembra um programa de calouros chamado “ídolos”, antigamente apresentado no SBT, ela deixou de bochechas rosadas e cabisbaixo políticos do Estado de São Paulo. Não que eu não ache que deveria haver um outro hino nacional, mais fácil de ser cantado, decorado e estudado sintaticamente. Mas é que a hora de reinventá-lo não era aquela. Aquela hora, creio, era a de cantar o hino do jeito que Joaquim Osório Duque Estrada o escreveu:“deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo”. Com aquela melodia que soa bem aos ouvidos e nos faz chorar de emoção. Não era, mas foi.

Pois bem, devido à destreza de Vanusa, esta intérprete maravilhosa que és, elejo-a minha musa, minha mais nova ídola. Venere-la-ei por toda minha vida. E farei mais: entrarei em contato com o Senador em que votei na eleição passada e exigirei dele que a convoque para ir àquela Casa, o Senado Federal, cantar o mais novo Hino Nacional. Mas antes, vou pedir ao Senador para que a leve à casa do nosso Presidente da República, para tomar só mais uma dose. Assim, quem sabe, consigamos fazer alguns senadores se sentirem envergonhados por algum tempo e daí, resurja a moral e a ética tão sonhadas.

Para quem não viu o vídeo, copie o link abaixo e cole na barra de endereços. Não vale tampar os ouvidos.

http://www.youtube.com/watch?v=6w9MpztV4gk

21 de ago. de 2009

O Estado é laico para quais religiões?

Falaram-me um dia que o Estado era laico, e aprendi por um motivo imperativo: desempregado, à época, estudava para passar em um concurso público e, assim, adquirir uma certa estabilidade financeira na vida.

O sujeito que me falou isso não é indeterminado, como coloquei no primeiro período deste texto. O saudoso Professor Frederico Mello (Fred, para os mais chegados) explicou-me direitinho nas aulas de direito constitucional que tive com ele. Pena que já não está conosco, porém suas lições ficaram para posteridade. Aprendi, depois de grande (como dizem os mais experientes), que o Estado não tem religião.

O legislador quis com isso proclamar a liberdade de crença, quis evitar que o nosso Estado se tornasse uma república baseada em princípios fundamentalistas, como acontece com vários países do oriente médio e nas Irlandas também; quis respeitar toda fé professada (seja ela qual for) e também afastar a religião das coisas públicas. Fez bem!

Acontece que há muito tempo a Constituição não tem sido alvo de respeito. Dizer hoje que o nosso Estado não tem religião é falácia. Basta ver nas escolas públicas: as aulas de ensino religioso transformam-se em aulas de uma só crença, que aqui não preciso citar. Ao fazer isso, direciona-se o aluno a apenas uma religião, desrespeita-se a lei de diretrizes e bases, a Constituição e, sobretudo, o próprio aluno. Tira direito que ele tem de conhecer as diversidades culturais religiosas do Brasil, de expandir sua capacidade de pensar outras religiões, de respeitar outras crenças e, mais que isso, conviver com a alteridade.

Contudo, a marca da religião não está só no ensino, basta ir a algum órgão público que serão encontradas imagens pregadas nas paredes. É assim na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, nos Tribunais país a fora. Essas imagens, segundo a decisão da Juíza Maria Lúcia Lencastre Ursaia, da 3ª Vara Cível de São Paulo, não ferem os princípios da laicidade e da isonomia do Estado. Conforme disse a própria magistrada, “a laicidade não pode se expressar na eliminação dos símbolos religiosos, mas na tolerância aos mesmos”.

Concordo, deve haver tolerância sim. Mas como haverá a plena tolerância se nem todas as religiões admitem imagens? Há vários cidadãos ateus, esses não merecem respeito também? Ou todas ou nenhuma. Outra questão: será que a Excelentíssima Sra. Juíza toleraria uma imagem de um santo de uma religião afro-brasileira em seu gabinete? E se houvesse uma imagem de Maomé, ela penduraria ao lado do seu crucifixo? E Buda, e Shiva, e Jah e Vishnu...?

Haveria, sim, tolerância religiosa se nos departamentos públicos estivessem todas imagens sagradas do mundo, ou se num concurso público para Capelão, por exemplo, admitissem outras autoridades religiosas além de padres católicos e pastores protestantes. Dessa forma, a pergunta que não quer calar é: será mesmo que a Juíza respeitou mesmo um outro princípio constitucional, o da imparcialidade?

O Estado se torna laico, então, só para algumas religiões, porque “todas são iguais, mas umas são mais iguais que as outras”.

20 de ago. de 2009

Os Imortais das Academias de Letras

Outro dia, peguei-me imaginando caso fosse verídica esta estória de que escritor da ABL é imortal. E acabei pensando também alguns descabidos: já pensaram se um dia Deus, num desvario, desse realmente esse dom àqueles “mortais”? Lágrimas nos olhos.

Não que alguns escritores que estão lá não mereçam: Alfredo Bosi, grande estudioso da literatura brasileira; Carlos Heitor Cony, jornalista de primeira categoria; Ana Maria Machado, uma das mais importantes expoente da literatura infanto-juvenil; Ariano Suassuna, defensor ferrenho da cultura brasileira; João Ubaldo, autor de “A Casa dos Budas Ditosos”, e até mesmo os que já estiveram. Imaginem poder assistir a uma palestra em que estivessem reunidos Machado de Assis, Álvares de Azevedo, Aurélio Buarque de Holanda e... José Sarney? Isso! José Sarney, esse imortal da literatura brasileira, dos livros desconhecidos que não é lido por ninguém. Imaginem-no para posteridade como escritor e também como político? Senador para sempre, até a eternidade. Foi por isso que me peguei com as lágrimas nos olhos. Mas não só por ele: é que Fernando Collor, outro exímio escritor, fará parte da cadeiras dos “imortais”, e isso torna a situação insustentável. Nem Deus nem o Diabo fariam isso com o povo brasileiro. Tenho certeza.

Falo de Collor mais uma vez porque ele é candidato único a uma cadeira na Academia Alagoana de Letras (AAL). Essa candidatura una foi intermediada por um escritor daquela academia e ex-promotor de justiça daquela terra e conta com a adesão de todos os 40 imortais daquela casa. Como inaugurador das coisas impossíveis, o ex-presidente será chancelado “imortal” para AAL sem nenhuma obra publicada. Collor, o imortal, segundo informações, pretende lançar, futuramente, dois livros: um com os discursos dele na tribuna, que deve incluir, por exemplo, o “ingula-as e digira-as como quiser” ou “eu tenho aquilo roxo” (discurso no Ceará, em 1991), e outro livro falando de um suposto golpe que ele levou quando ainda era Presidente desta República.

Mas, então, por qual motivo o ex-promotor de justiça defende tanto uma cadeira para Collor mesmo sem o senador ter escrito nenhuma obra? É que, conforme justificativa do próprio promotor, Collor é dono de uma empresa de comunicação muito poderosa naquele estado: o jornal “Gazeta de Alagoas”. Percebe-se, então, que os critérios para uma cadeira nas academias de letras são outros.

Não acho ruim que transformem as Academias de Letras em APL’s – Academias Políticas, Marco Marciel também é um “imortal”. Essas academias deveriam aproveitar o oportunidade, já que os nossos políticos acadêmicos estão tomando de conta também daquela casa, e oferecer até mesmo um curso de formação para ser político, afinal de contas para quase todos os cargos públicos há uma “academia”, uma escola. Há a escola para ser magistrado, há a escola para ser promotor, há escola para ser diplomata, há escola para ser delegado, policial, há escola para ser professor, médico, professor, contador. Só não há escola para ser político, por quê?

Nada melhor que uma escola de formação de políticos. Lá eles aprenderiam lições relacionadas à ética, à constituição, ao direito administrativo. Passariam a saber que todo ato administrativo é publico, portanto deve ser publicado; entenderiam que o princípio da publicidade é constitucional, assim como a moralidade e a legalidade. Aprenderiam que não se mistura coisa pública com coisa privada.

14 de ago. de 2009

A briga entre o monopólio e a fé

O telejornalismo brasileiro anda em baixa. É que por quase todos os canais TV abertos que se queira assistir sempre há uma certa parcialidade na informação. Esta, direito do cidadão, quase nunca pode ser levada tão a sério pelos telespectadores, senão comete-se o risco de se julgar sem o pleno conhecimento de causa.

O embate é antigo: de um lado a Rede Record do líder Edmar Macedo, bispo e proprietário da Igreja Universal do Reino de Deus; do outro, a Rede Globo de Televisões, da família Marinha, dona do monopólio televisivo brasileiro há várias décadas, desde a ditadura, quando Roberto Marinho ganhou a concessão. Em jogo, o monopólio dos olhares e o monopólio da fé, em detrimento do bom jornalismo e da boa informação.

Atualmente, a denúncia que pesa sobre a cúpula da Igreja Universal é a de apropriação do dinheiro arrecadado em cultos para compra de imóveis, segundo relatório da Coaf – Conselho de Controle de Atividades Financeiras. O relatório foi anexado a outra denúncia do Ministério Público: o uso de doações de fiéis para abastecer empresas ligadas à Igreja. As supostas falcratuas estão sendo muito bem exploradas pelo Jornalismo Global, que, como urubu na carniça, se delicia ao ver a podridão do adversário e ocupa grande parte do Jornal da noite para abordar esses fatos, com veemência até.

Em contra-ataque, jornalismo da Record explora - além do envolvimento das Organizações Globo com aquisições indevidas do dinheiro público para Fundação Roberto Marinho e emissão de notas fiscais falsas - o passado obscuro da Rede Globo. Ontem, exibiu uma reportagem longa mostrando trechos de um documentário chamado “Além do Cidadão Kane”.

Conto: Cidadão Kane foi um longa-metragem de 1941, baseado na vida do magnata do jornalismo William Randolph Hearst. Conta a história de Charles Foster Kane, um menino pobre que acaba se tornando um dos homens mais ricos do mundo. Pois bem. O documentário faz uma comparação entre Kane e Roberto Marinho, que foi “além” daquele. Produzido pela Televisão Britânica em 1993, aborda a posição dominante da Globo na sociedade brasileira e, mais que isso, a influência que ela (ou ele, Roberto Marinho) exerce nas relações políticas do pais: há quem credite o fato de Fernando Collor ter sido eleito por causa da manipulação havida no último debate com o então adversário Lula, de forma que Collor pareceu ser mais “simpático” à massa (o resultado já é sabido). Tem entre outras personalidades nos relatos Chico Buarque e o antigo sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva - ainda sem a produção dos marketeiros.

Enquanto os dois canais de TV se digladiam, os telespectadores se transformam em reféns de informações meramente midiáticas e com o propósito apenas de desqualificar uma a outra. Não há outro o objetivo para as duas emissoras que não seja o “lucro”. A informação em si, que deveria ser objetivo principal da atividade jornalística, fica em segundo plano. O que está em jogo é, de um lado, a perpetuação de um monopólio da televisão brasileiro, o que gera um bom dividendo; e do outro, a exploração da fé com o fim de angariar vantagens pessoais, mesmo que isso prejudique de certa forma, fiéis. Esperemos sentados então, e com o controle remoto na mão, a próxima edição da novela “briga por dinheiro”.

13 de ago. de 2009

Imagens inéditas da chegada do homem à lua.


E eu, na minha santa ingenuidade, achava que a família era dona apenas de um estado brasileiro. Creio que seja mais um caso para ser investigado na Comissão Antiética do Senado. Falo isso porque tenho a plena certeza de que esses bens não são declarados à Receita Federal desde 1969.

12 de ago. de 2009

Mais humano do que ser!

Seres humanos: seres e humanos.
Seres que matam
Humanos que perdoam.
Talvez fosse mais fácil
Dizer todos os defeitos seus,
Que tanto me incomodam,
Mas eu não quero, eu não posso,

Eu quero te falar de todo sentimento
De quando me lembro
Dos nossos melhores momentos.

Mas entenda, isso não é um amor de declaração,
Muito menos um pedido de redenção.
Amanha só serão, como se chama mesmo?
Ah! lembranças.

Mas hoje eu só quero recordar
Sem me lamentar
Vou acordar sem pressa,
Ver o sol iluminar minha janela
Ligar a TV e ver a reprisse
Daquela velha novela.

E deixarei de lado o "ser"
Eu quero ser humano .


Por Carol de Lima

Coração de Pedra

SEDIMENTAÇÃO
LAVA
INÓCUO, DURO, ESTÉTICO
OPACO,
CINZA,
PESADO
CHUMBO
MAGMA ARTERIAL

ABRASO, MAS
FRIO
FRIALIDADES
BATO, TOCO, FAÇO VIVER

VIVER DEPENDE DE
MIM
E DE MIM FAZ-SE NECESSÁRIO CUIDAR
CUIDAR BEM, CUIDAR TODO,
TUDO.

MAS, MESMO ASSIM, SOU PEDRA
DURA, INQUEBRÁVEL,
DENSA.

NÃO TENHO DONO
NADA ME DOMA
NÃO TENHO
ALMA

CORAÇÃO QUE SOU
SENTIMENTOS NÃO
DOU.



E NEM PODERIA SER DIFERENTE.


10 de ago. de 2009

Como nossos pais.

Não sei quando aprendi a gostar de política, creio que tenha sido nos embates que presenciei aqui, na Capital, por volta de 1994. Primeiro ano em que eu votara, facultativamente. Naquela época, o povo, sedento por mudanças, elegeu o agora Senador Cristovam Buarque para Governador.

Lembro de meus pais, dos meus vizinhos discutirem política. Lembro do jogo baixo: algo normal, afinal de contas, segundo os próprios políticos, “os fins justificam os meios”. Aprendi, estudei-a, gostei de tentar desvendar as jogatinas, as maracutaias, os conluios.

Mas o fato é que outro dia vinha dentro do metrô eu e milhares de pessoas, inclusive quatro jovens que se propuseram debater política, até que um deles falou algo interessante: “não gosto de política e nem de políticos”. Exímio curioso da conversa alheia, comecei a prestar atenção no papo. Não saiu muita coisa. Mas a frase dita (“não gosto de política”) matutava minha cabeça, “na parede da lembrança, esse é o quadro que me dói mais”.

Fico pensando: o que nos faz não gostar de política? Por natureza, somos seres políticos. Para tudo, fazemos políticas, desde criança. Há política na hora de pedir balinha aos pais, na hora de indagar o porquê de não levar palmadas, não hora de pedir pra ir à balada, na hora de defender aqueles que gostamos. Na hora de defender a nossa religião, por exemplo: Jesus morreu por causa da política. Política é mais velha que nós.

Até entendo aqueles jovens, a classe política deste país não é, há muito tempo, motivo de orgulho. Os escândalos se sucedem um atrás do outro ano a ano. E é como merda no ventilador, no final todos se sujam: um corrupto nunca está maquinando só, sempre há mais corruptos na história. Isso tira-lhes as esperanças.

Mas, mesmo assim, escândalos não são motivos para abandonarmos a política. A política está acima dos políticos. Política é como nossa casa: se não a comandamos, se não damos direção a ela, se a deixamos de lado, há quem faça tudo isso à sua maneira. É o que ocorre, por exemplo, nas duas Casas Legislativas mais importantes do país: Câmara e Senado federais.

Abandonamos nossa política. Não é por acaso que os Renan’s, os Collor’s, os Sarney’s da vida reelegem-se há anos, não procuramos reformar, inovar. Eles comandam a casa. Mas, ainda assim, quando os escândalos aparecem, ficamos indignados. Por que ficamos indignados? Não será a hora de parar de votarmos “como nossos pais” e deixar de lado “nossos ídolos que ainda são os mesmos”?

Mas, só oxigenar a casa ainda não basta. Faz-se necessário cobrar do inquilino dela (isso! inquilino, porque o dono somos nós, os cidadãos) para que ele cuide da casa com dignidade, respeito e, sobretudo, com ética. Aproveitemos, então, a oportunidade e mudemos, portanto, os nossos inquilinos e, além disso, passemos a cuidar mais do nosso lar.

7 de ago. de 2009

No ônibus

Sangue nas unhas de uma, cabelos nas mãos das outras. Algumas pessoas apaziguando a situação, outras com o sorriso estampado na cara, adorando a situação...afinal de contas não é todos os dias que se presencia um espetáculo como este:
- Piranha! dizia a que estava sentada.
- Vagabunda! dizia a descabelada que estava em pé.
- Vá dormir em casa, ônibus não é lugar de dormir!
- O ônibus não é teu, vá mandar na sua casa!
- Vá se...!
- Vá você...
- Vão as duas! Afirmavam os que estavam no fundo.
- Gente, que absurdo! Diziam os mais sensatos.
- Vou parar o ônibus – dizia o motorista, já parando-o – se não pararem a briga agora.
- Pai nosso que estai no céu. Santificado seja o vosso nome...
Cristãos começaram a rezar. Nem preciso falar que as concordâncias verbais e nominais não foram respeitadas. Por questão estilística, resolvi modificar algumas palavras, sem perder de vista a verossimilhança do fato, que é cômico se não fosse absurdo, como todo tipo de agressão física, seja por um simples toque entre pessoas, seja por petróleo, por exemplo.
Já que tratei da física, devo informar-vos que ela foi a culpada, não totalmente, mas parcialmente. A outra parte da culpa fica por conta dos caprichos humanísticos. A que estava em pé (que aqui graciá-la-ei de Gumercinda) resolveu colocar a mão no banco do ônibus para não ser surpreendida pela inércia. A que estava sentada (Araci) caiu no sono, encostou a cabeça no mesmo lugar onde estava a mão da Gumercinda... Culpa da física, já que a força gravitacional puxa a nossa cabeça para baixo, quando estamos dormindo, e como dois corpos não ocupam o mesmo lugar, tocaram-se.
Esse simples toque entre pessoa resultou no fato contado lá em cima. De início, só mais uma discussão, simples palavreados, debate acalorado:
- Eu quero dormir! Qual problema?... Exclamava Gumercinda.
- Quer dormir? Então vá para casa!!! Respondia Araci.
- Minha filha, o ônibus não é teu! Quer se segurar? Coloque a mão em outro lugar...
- Então beleza, sendo assim... Respondeu Gumercinda, então, colocou a mão na cara da Araci, que se levantou e revidou, puxando os cabelos da agressora. Levou uma unhada. Caíram no assoalho do ônibus, que cotidianamente anda lotado. Pessoas se comprimindo entre bancos e catraca. Confusão, correria, bagunça, gritaria, risadas...
Uma, impávida que nem Muhammed Ali; a outra, tranqüila e infalível como Bruce Lee. Os usuários loucos, como nas antigas arenas em Roma, esperando o desfecho de uma boa briga entre mulheres: quando uma não sai pelada, sai descabelada. Eu, eu... eu estava ali, indiferente, onisciente, interiorizando todas as informações (ou pelo menos tentando) para depois externá-las em forma de palavras.
Acabada a discussão, da forma como descrevi no primeiro período, continuei a ler o livro que estava na minha mão e a matutar a aula de sábado. Vida de professor.
Ouvem-se cochichos, risadas, as duas sem graça. Deviam estar pensando o quanto banal foi o motivo das agressões mútuas ou o tanto que as pessoas ao mesmo tempo em que estão tão juntas se sentem separadas. E mesmo num “espaço curto, quase um curral”, elas não podem se tocar. Tudo voltou ao normal. Assim começou mais um dia.
Por Flávio Rossi

6 de ago. de 2009

Jeitinho Brasileiro?


Semana passada fui ao cinema, fui levar minha filha para assistir a um desenho animado. Desses que procuram estrear justamente nas férias das crianças: isso as instiga.
O fato é que sempre antes da sessão iniciar, há aquele coquetel de lanche que temos de fazer. E o preferido da criançada em geral é o de uma empresa internacional, líder no segmento de alimentação.
Comprei o lanche. Custou-me cerca de 13 reais. Mas o que mais me intrigou foi o jeitinho que a empresa estrangeira deu para tentar ludibriar-nos a nós, brasileiros: ao pedir o produto, o cliente recebe o hambúrguer, a batata e o refrigerante. O problema está no refrigerante.
Vamos o causo: o refrigerante da lanchonete custa cerca de R$ 4,00 reais, em média. Ao comprar um copo de 500ml, o cliente recebe justamente a metade do produto, a outra é gelo. Fazendo uma rápida comparação, acaba-se percebendo que um refrigerante com 2litros, em qualquer rede supermercado, custa em média R$ 3,00 reais. A malandragem: pague R$ 4,00 reais por 500 ml de refrigerante e leve apenas 250ml.

E isso acontece em vários outros ramos, por exemplo, no bancário, no da telefonia. Em qual outro país do mundo cobra-se por não utilizar o telefone? Só no Brasil, esse “Impávido Colosso!” Isso mesmo, ao contratar o serviço telefônico de uma dessas empresas de capital estrangeiro, o cliente – mesmo sem utilizar o telefone para fazer qualquer tipo de ligação – paga por uma taxa, uma tal de assinatura básica: R$ 40,00. Não é por acaso que várias empresas estrangeiras estão investindo em telefonia aqui, no Brasil, afinal de contas o retorno gera preciosos dividendos: pague mesmo sem usar!

Ao colocar gasolina e ao pagar por ela, o cliente recebe um adicional: o ar. Outro dia até tentaram instalar nos postos de gasolina (a maioria aqui no Brasil é estrangeiro) um dispositivo que evitaria a passagem do adicional pela bomba de gasolina. Nada mais justo, se pago 5 litros - por exemplo - de gasolina, gostaria muito de receber os exatos 5 litros. Um lobe dos xeiques dos combustíveis acabou com "a felicidade geral da nação" e o tal dispositivo passou longe da bombas. Esse mesmo ar é pago nas contas de água. Ar é algo que tem de sobra aqui no Brasil. Cheguei a achar até, em algum momento, que ele era gratuito, mas... nada de graça!
Não vou divagar aqui falando de empresas de vários outros ramos, fosse assim eu até perguntaria por que a crise mundial passou longe dos bancos no Brasil. Por que não houve “quebradeiras” por aqui, assim como houve em vários outros países. Não, não vou perguntar isso. O fato é que importamos um produto muito criticado por alguns especialistas brasileiros (sociólogos, antropólogos...). Importamos um produto nosso, um produto autêntico, um produto nacional: o nosso “jeitinho”.

5 de ago. de 2009

Direito Autoral: Entre o interesse público e o privado.

Em dias nos quais a realidade técnica está ligada diretamente à produção material (e por que não dizer capital), o debate que se estabelece de maneira desigual faz lembrar o eterno desequilíbrio entre o forte e o fraco. A lógica de mercado que transformou cultura e saber em produto se estende à percepção social, causando deformações de diversos graus, onde, grosso modo, imperam os interesses privados aos públicos, delimitando alcances e benefícios técnicos a uma pequena parcela da humanidade.


O monopólio da técnica, do conhecimento, da arte e cultura, sempre dividiu em castas a sociedade humana. O controle técnico e científico infelizmente ainda não conseguiu inserir o ético que se torna fluído e tênue ao decorrer da construção histórica de um sistema que privilegia uma minoria de pretensos senhores do saber, dividindo a sociedade basicamente em pobres e ricos, em possuidores e despossuídos ou consumidores e não consumidores.


“O isolamento fundamenta a técnica; reciprocamente o processo técnico isola”, esta frase atribuída a Guy Debord em “A Sociedade do espetáculo”, bem poderia resumir em aforismo a realidade das políticas e legislações de patentes vigentes atualmente. Ao se patentear hoje, pela lei, pretende-se a garantia de uma exploração econômica monopolizando o processo de inovação daí decorrente, com vistas à criação de uma mercadoria, produto a ser capitalizado em detrimento de um horizonte de possibilidades que poderiam ser alcançadas através da contribuição ou soma de esforços e iniciativas variadas, dentro do corpo social. Assim o pretenso direito legítimo a exclusividade gera a exclusão, ou apartação de um sem número de possibilidades, que poderiam ser alcançadas se a lei contemplasse o bem maior, social, em detrimento de interesses financeiros, comerciais ou individuais. Segundo Theodor Adorno, o meio no qual a técnica atinge tamanho poder perante a sociedade, faz da técnica uma encarnação do poder dos economicamente mais fortes sobre o restante do corpo social, ou seja, “A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria dominação”.


Exemplo claro de quão acirrado pode ser o debate sobre direitos autorais, podemos citar o caso em que se viu envolvido o Governo brasileiro, quando do ano de 2001 o então Ministro da Saúde José Serra determinou a quebra da patente de medicamentos destinados ao tratamento de doentes de AIDS. A imprensa mundial por diversas se colocou em defesa dos grandes laboratórios e contra a atitude do então ministro, e principalmente contra o efeito cascata que daí poderia decorrer. Fato interessante que ilustra a natureza do debate onde, neste ato de governo, segundo Cristovam Buarque, “a ética foi colocada acima dos interesses e das leis comerciais”.
Infelizmente em outros setores o Brasil tende a tomar iniciativas que contradizem o bom senso e a realidade atual. A extensão do prazo de proteção dos direitos autorais para 70 anos após a morte do suposto autor é exemplo negativo de como vaidades e interesses individuais podem privar por gerações o espaço público do aproveitamento de nosso capital cultural e somar iniciativas em prol da construção de um novo saber.

Pierre Lévy em “A inteligência coletiva” repensando os mecanismos de construção cultural anseia justamente o contrário da iniciativa jurídica brasileira. Para este autor, a velocidade e as maravilhas alcançadas pelo meio técnico deveriam suscitar há uma construção mais democrática do que este chama de “saber coletivo”, fazendo retroceder a linha da individualidade de autoria para uma relação de co-autoria com o coletivo, com a sociedade, de modo a alcançar maior democracia na produção e distribuição cultural-técnico-científica.


Está claro, a velocidade do mundo globalizado rompe barreiras não naturais criadas e legitimadas em leis que não contemplam a realidade e principalmente as necessidades sociais. A lei de patentes hoje estimula mais que previne a pirataria, causando deformações tais quais as patentes tidas como legítimas firmadas sobre a criminosa prática da biopirataria, da qual o Brasil é constante vítima.

Este debate propicia a tentativa de encontrar meios de equilibrar as necessidades técnicas e o bem estar público. Talvez resida em uma nova perspectiva o caminho para uma flexibilização dos direitos autorais, que já parecem estagnados ou fadados a se tornarem letra morta por não se condicionarem ao interesse público e por não disporem de um poder de controle ou fiscalização eficiente, que garanta defesa mínima ao meio técnico para se recriar. As leis devem ser reflexo dos anseios da sociedade. O aumento ou diminuição de prazos de proteção devem ser vistos de maneira pragmática de modo a atender as necessidades particulares de cada país, região ou povo, respeitando o estágio histórico em que cada um se encontra, e não legitimar laços de dominação econômica ou de neo-colonialismo científico-cultural. O debate público ou a participação popular deve prevalecer na construção de uma nova relação entre produção de conhecimento, criação cultural e, principalmente, difusão dos possíveis benefícios destes.


Com maior participação democrática em âmbito global, na construção de saberes e troca de conhecimento e experiências, talvez possamos substituir o atual modelo protecionista, que prioriza a marca, os conglomerados, o capital ou a individualidade por uma mais saudável relação social, mais igualitária, democrática e na qual as leis possam enfim contemplar o interesse público e privilegiar o ético sobre o econômico.Por Alexandre de Medeiros.

Liberdade - Carlos Marighela






Não ficarei tão só no campo da arte,

e, ânimo firme, sobranceiro e forte,

tudo farei por ti para exaltar-te,

serenamente, alheio à própria sorte.


Para que eu possa um dia contemplar-te

dominadora, em férvido transporte,

direi que és bela e pura em toda parte,

por maior risco em que essa audácia importe.


Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,

que não exista força humana alguma

que esta paixão embriagadora dome.


E que eu por ti, se torturado for,

possa feliz, indiferente à dor,

morrer sorrindo a murmurar teu nome.





Liberdade.

Às vezes, fico imaginando o porquê de François-Marie Arouet, proeminente filósofo francês, à frente de seu tempo, ter pronunciado as seguintes palavras: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. E fico imaginando também o porquê de George Orwell, autor de “A Revolução dos Bichos”, ter usado as mesmas palavras de Voltaire em um dos seus artigos acerca do direito de expressão.



Certamente, os dois pensadores percebiam que essa liberdade estava correndo sério risco. Intrigante é saber qual tipo de pensamento que eles teriam se soubesse que uma família de políticos brasileiros, que ajudou na luta pelos direitos de expressão, que um deles faz parte da ABL – Academia Brasileira de Letras -, que um deles é Presidente do Senado Federal, instituição fundamental à democracia, passou por cima do direito que ele mesmo ajudou a estabelecer. Certamente eles falariam: “só no Brasil mesmo!”. E o que eles diriam se soubesse que o tal político se utilizou de um amigo da família, um Desembargador do DF, para conseguir uma liminar a fim de impedir um jornal de publicar matérias a respeito do mais recente escândalo no Senado? A uma hora dessas, eles devem estar se revirando no caixão.


O fato é que tentativa da família Sarney de impedir o jornal “O Estadão” de publicar matérias de interesse público, afinal de contas o Senador é um homem público, ajudou ainda mais na condenação de Sarney, o tiro saiu pela culatra. Atentado à liberdade de expressão como esse só foi visto em plena ditadura.


O que é repugnante também é saber que interesses individuais, nesses país, por vezes se sobrepõem aos interesses coletivos. É o tal do misturar o público com o privado, fazendo do Estado o quintal de casa. Penso que o desembargador deveria, no mínimo, se declarar impedido de julgar tal liminar.


As palavras, por mais que não concordemos com elas, têm de ser ditas. É um direito constitucional dizê-las. Não por acaso estou escrevendo-as aqui, foi um direito conquistado por meio de muitas batalhas, lutas, vidas: Carlos Marighela, Carlos Lamarca, Frei Tito, Zuzu Angel, Vladimir Erzog... Aliás, um dos poemas contemporâneos mais belos leva o nome de “Liberdade”, Marighela é o autor: “É que eu por ti, se torturado for, possa feliz, indiferente à dor, morrer sorrindo a murmurar teu nome”.


Mal sabe a família Sarney que o feitiço pode virar contra o feiticeiro (como virou), e que eles podem ser os próximos a ser calados. Se a moda pega... Por Flávio Rossi

O que 20 anos de política não fazem!

Galera, para os que não entenderam o que eu quis dizer no artigo abaixo, quando afirmei que o mesmo Sarney que o Collor defende hoje não era o mesmo Sarney em que ele meteu o pau em 1989, para os que não entenderam, disponibilizo o vídeo abaixo.
Maquiavel, outro dia escreveu isto: "o tempo lança à frente todas as coisas e pode transformar o bem em mal e o mal em bem". Agora, entendo o porquê.
A dissimulação, nesse jogo sujo que se chama política, é algo que ultrapassa qualquer barreira da racionalidade. Política não é pra se compreendida, definitivamente. O link está aí abaixo.

4 de ago. de 2009

Os olhos de Raio de X adicionado a um bom DNA.

O Senado parou. Não se vota mais matérias importantes para coletividade. O que se vê é uma guerra, batalha política que teve apenas um singelo “bem-vindo” ontem, na volta do recesso parlamentar. De um lado Pedro Simon – velho e respeitado Senador – e do outro, Collor e Renan – velhos e... Senadores, para fechar.


Tudo começou quando Simon começou a defender a saída de outro velho e...Senador, José Sarney, Ex-Presidente da República, acusado de desvio de verbas (desvio de verbas é o termo usado à classe mais avantajada, que se preocupa em usurpar valores acima dos milhões. Para os menos endinheirados, o nome que se dá, no popular, é “roubar”), voltando... acusado de desvio de verbas, de tráfico de influência, de nepotismo e etc. Ao pedir a saída do Presidente da Casa, Renan achou-se no dever de defender o velho amigo e companheiro de tantas batalhas, praticamente chamou Simon de traidor, uma vez que este declarou, outrora, apoio ao Presidente, mas que – naquele momento – pedia para Sarney deixar o cargo. O mesmo Renan – dono do Senado – esteve na berlinda há pouco tempo. Simon, então, retrucou-o falando no púlpito que ele tinha feito a mesma coisa com o Senador Collor, declarou apoio ao então Presidente da República e, ao ver que a coisa tava feia, abandonou-o. Collor, que hoje defende Sarney (o mesmo Sarney que ele atacou em 1989), achou ruim seu nome ser falado (collado numa suposta jogatina para o rumo da China) da tribuna. E com palavras chulas e uma retórica de Jagunço pediu para que Simon “engolisse e digerisse” como quisesse as palavras que ele iria falar. Mal se lembra o Senador o prejuízo que milhares de brasileiros tiveram de “engolir e digerir” quando ele resolveu confiscar a poupança dos correntistas.


O que mais me impressionou não foi o bate-boca, mas os olhos de Collor: vermelhos, esbugalhados, arregalados, estupefados, lembrei-me dos X-Men. Se ele fosse um mutante, certamente seria o Ciclope . Dedos eretos como se tivesse uma arma na mão, fungava feito um búfalo. Coisas do DNA.

Para os que não sabem de onde vem toda aquela “vontade de matar” de Collor de Melo, agora esclareço: filho de Arnon Afonso de Farias Melo, empresário, ex-governador de Alagoas e ex- Senador da República, Arnon (quando também era Senador) assassinou com três tiros, dentro do Senado Federal, um adversário político, O Senador José Kairala. Arnon, pai de Collor, foi, então, o primeiro Senador da República a ter o mandato cassado. Coisas do DNA.
Por Flávio Rossi

Flávio Rossi

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Posso não concordar com suas palavras, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las - Voltaire