Quem disse que religião, política e fubebol não se discutem?

No popular, houve-se muito que "religião, política e futebol" não se discute (sic). Na verdade, o dizer não incluía o termo "política", ele só foi incorporado mais tarde, pela elite e pelos próprios políticos, a fim de evitar o debate e os questionamentos político entre as pessoas. Dessa forma, sem o debate, como poderia eu estabelecer meu posicionamento e também aprender com o próximo? Debates ajudam a esclarecer, ajudam no ceticismo, no questionamento. Além do mais, não só a política, mas também a religião e o futebol são passíveis de debates, desde que ambas as pessoas estejam dispostas a não somente falar, mas, antes de mais nada, escutar e aprender. Debatamos, então, sim.







22 de mar. de 2012

A HORA DA ESTRELA

Quem não se lembra de “A hora da Estrela”, obra máxima de Clarice Lispector, que conta a história de uma retirante nordestina que vai tentar a vida no Rio de Janeiro e acaba por sofrer várias privações na vida?


Macabéa era uma desgraçada, com perdão da palavra. Raquítica, tola, solitária, porém doce e obediente, ela acreditava que foi jogada ao mundo. Não tinha objetivos na vida e nem sonhos, a não ser o de ser uma estrela de cinema. Consegue ser brilhante, como uma estrela, bem na hora da morte, quando é atropelada.


Lispector era uma visionária, ela tinha esse incrível poder de antever as coisas. Quantas Macabéas existem ou deixaram de existir? Várias, sem dúvida. Eu conheci uma esses dias, o nome dele era Wanderson Pereira dos Santos, 30 anos, ciclista. Fez tudo errado na hora da morte. “Disinfiliz”, como diz minha mãe.


Ajudante de caminhão, ele fez o favor de atravessar a pista bem na hora em que Thor – este Deus ou Semideus - ia passando com seu veículo automotor de grande propulsão e de alto valor financeiro. Amassou o carro da entidade multibilionária, causando um prejuízo econômico sem precedentes para o Transcendente. Apenas perdeu a vida.


Apenas. Mas os deuses, eles não se contentam somente com nossa humilde vida miserável. Pragas que somos, câncer do mundo. Eles querem mais, eles querem vingança. A vida por si só não basta.


Eis então que Thor, num excesso de fúria, contrata o maior, o melhor, o mais radiante e caro advogado para lhe defender: Marcio Thomas Bastos. Ex-ministro da Justiça, sabe tudo em direito penal, processo penal, conhece como ninguém as brechas da lei, manja tudo de “karatê”. O objetivo deste áureo advogado, além de defender a causa do Deus, é fazer com que Wanderson pague pelo crime que ele cometeu: atravessar a pista, a fim de atropelar a Mercedez de Thor com a sua humilde bicicleta, numa BR, expondo, dessa forma, imagem do superior a todos, ofuscando a luz dele por alguns dias e avocando a si o brilho da estrela. Sim, cometeu o crime de ofuscar Thor, teve a sua hora da estrela e, por isso, tudo indica que o finado vai parar na cadeia. É o que lhe resta, absurdo que seja.


Para que isso aconteça, só depende mesmo de um outro deus, acostumado também a usar um martela, mui amigo dos bilionários: o juiz. Claramente, ele decidirá a causa em favor do corporativismo.


Wanderson, seu desgraçado, infeliz e miserável pague pelo crime que você cometeu! “morreu na contramão atrapalhando o tráfego...” fico aqui cantarolando.

7 de mar. de 2012

Aqui não, JACARÉ!


Tenho pensado muito no carnaval. Aliás, tenho pensado na tentativa banal de um comediante desses novos da TV de bani-lo. Foi uma campanha mal sucedida, compartilhada por muito poucos, quase ninguém na verdade, projetada pelo Facebook.  Segundo a proposta insana, isso ajudaria na melhoria da imagem do brasileiro no exterior, na diminuição do HIV; na melhoria das nossas rendas, pois o país não ficaria tanto tempo parado em comemoração, e o dinheiro aplicado nele iria para educação. Ou seja, os problemas sofridos pelo país o ano inteiro, desde a sua fundação, se devem à festa, a apenas cinco dias.

Chato mesmo são os poucos que são a favor da campanha do piadista. Geralmente, falam demais, escrevem demais e, na prática, fazem de menos.


Pouco sei da história de Jesus, não ousaria aqui falá-la, contudo é sabido que Ele mais fez do que falou. Sabem porquê? Porque o que vale é a prática, é a mão na massa. Foi assim não somente com Ele, mas com quase todos líderes religiosos já conhecidos. Aliás, um dos maiores, que já passou por aqui, mostrou-nos como se faz direitinho. Chamava-se Mahatma Gandhi: caminhou quase 400 quilômetros, de forma pacifista, durante 25 dias, só para pegar um pouco de sal no mar de sua terra, a fim de livrar o seu povo da opressão dos ingleses, que nada puderam fazer contra o ato. A Marcha do Sal.


Os poucos que aderiram à malfadada campanha, são os poucos que todos os dias colocam no Facebook palavras de ordem de cunho religioso. Contraditório é saber que eles gozaram, e muito bem, o carnaval e agora querem bani-lo. Claro! Até chegar os outros carnavais: Caldas Country, Carnagoiania, Festa Trio e tantas outros. São os mesmos que tiram foto de sunga e biquíni, copo de cerveja, whisky e red Bull na mão, ao mesmo tempo em que escrevem contra a festa “pagã”. Falam demais, fazem de menos. Paradoxal.


Aqui não, Jacaré! Se você é contra, tente ao menos caminhar em linha reta, de forma menos contraditória possível. Não me venha com estratagemas simples, rasos e, sobretudo, contrários à sua própria conduta. Não bastam as palavras, mais vale a ação. 

Flávio Rossi

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Posso não concordar com suas palavras, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las - Voltaire