Gosto do metrô daqui, do DF. Não que o transporte seja excelente, não o é, mas me evita vários transtornos do dia-a-dia. Além do mais, ir e vir no metrô têm-me inclinado a escrever vários textos. O mais recente trata de um assunto em pauta: a liberação do consumo de algumas drogas consideradas ilícitas.
O assunto não era muito corriqueiro nas rodas de debates, até um Ex-Presidente de esta República ir a um programa de grande audiência e falar sobre o tema. Inclusive convocando a sociedade para debater de fronte o assunto e, sobretudo, admitindo ter pedido a guerra contras as drogas. De qualquer forma, o fato é que o povo também perdeu a timidez para questionar sobre a tese - ainda mais em locais públicos - nesse caso aqui o metrô.
Estava eu sentando, concentrado no meu jogo japonês de nome esquisito chamado sudoku, quando entrou um grupo de jovens discutindo sobre o tema, que estaria em pauta no STF naquele dia. O debate estava acalorado e logo me tirou atenção. Na espreita, fiquei ali tentando sorver alguma informação inteligível, mas também fazendo força para distinguir os lados do embate. Percebi que havia ali estudantes com opiniões mais inclinadas à liberalização e outros com posturas mais ortodoxas, todos com a cabeça ativa. Vale ponderar aqui que alguns estudantes admitiam que também para liberdade de expressão havia limites. Achei grave o pensamento por entender justamente o contrário: o dia em que houver limite para as pessoas se exprimirem, então voltamos aos tempos de chumbo da ditadura. Uma coisa é liberdade de expressão, outra é apologia às drogas. A linha é tênue.
Fora isso, andei prestando atenção no campo lexical dos que debatiam. Lá pelas tantas, “o trem pegando fogo”, um esbravejou: “tem de discriminar logo, não adianta proibir, rapaz!” O Outro retrucou: “não tem de discriminar nada. O uso de drogas é pura falta de vergonha e moral! Um terceiro gritou: “então que se proíba também o uso do álcool e do cigarro, que faz mais mal que a maconha!” Arregalei os olhos, os poucos pelos do meu braço se arrepiaram. A contenda continuou. Não ia acabar tão cedo.
No final das contas, o STF não julgou a liberalização do uso das drogas, mas, sim, o direito de expressão, de opinião e de reunião muito bem amparados pela Constituição Federal de 1988, reclamados pelo movimento "marcha da maconha". E fez bem. Amparou-nos. Não faz muito tempo uma banda de rock, precursora da liberdade de expressão, foi dissolvida à base da pura força bruta, sobre a êgide de que fazia apologia ao consumo de drogas.
Com toda o assunto em voga, na verdade, a minha dúvida mesmo ficou por conta das palavras homófonas: o certo é discriminar ou descriminar? (risos)