Quem disse que religião, política e fubebol não se discutem?

No popular, houve-se muito que "religião, política e futebol" não se discute (sic). Na verdade, o dizer não incluía o termo "política", ele só foi incorporado mais tarde, pela elite e pelos próprios políticos, a fim de evitar o debate e os questionamentos político entre as pessoas. Dessa forma, sem o debate, como poderia eu estabelecer meu posicionamento e também aprender com o próximo? Debates ajudam a esclarecer, ajudam no ceticismo, no questionamento. Além do mais, não só a política, mas também a religião e o futebol são passíveis de debates, desde que ambas as pessoas estejam dispostas a não somente falar, mas, antes de mais nada, escutar e aprender. Debatamos, então, sim.







19 de nov. de 2012

Sempre fica um pouco!



Uma amiga me ligou hoje pela manhã para falar do seu caso mal resolvido com o seu ex-namorado. Escutei-a, tentei dar-lhe a maior atenção possível e também dispensei a ela algumas palavras com intuito de animá-la um pouco. Acredito que nada é de graça, as circunstâncias não acontecem por um simples acaso da vida. MAKTUB, está escrito, tem de acontecer. O espiritismo e o Budismo são duas matrizes religiosas que abordam muito essa questão.

 De um relacionamento sempre fica um pouco, seja bom, seja ruim. O que é necessário é sempre aprendemos com as alegrias e com as dores que advém dele. Creio ser preferível aprender com a dor, porque é dela que levaremos para o resto da vida um aprendizado mais aguçado e é dela que saberemos nos sair melhor das adversidades futuras. Mas é da alegria e dos momentos bons que devemos recordar. É a alegria que devemos levar no coração. Só assim não guardaremos mágoas e rancores: a alegria deve estar no coração e as dores na mente - a fim de que sejam racionalizadas.

Contudo o caminho mais fácil, a porta mais larga parece ser justamente a da amargura, do desgosto, do pesar, da tristeza. Eles se amplificam no momento da desilusão e os momentos bons passam a ser ínfimos. É como se algo martelasse nossas cabeças e, a partir desse momento, passamos a não enxergar o que realmente importa. E o que importa é - sem dúvida - o que foi bom.

A vida segue assim como a água passa por baixo da ponte: o rio, num piscar de olhos, não é o mesmo de um segundo atrás. A vida – a cada passo, a todo momento – também se transforma . Sempre levamos um pouco do outro num relacionamento. Sempre fica um pouco de alguém na gente, mesmo que só o cheiro, mesmo que só um gesto, mesmo que só a alegria, mesmo que só a tristeza. Aprendamos com os percalços, então. Não guardemos mágoas, “leve com você só o que foi bom”, porque o ódio e rancor não dão em nada, conforme disse o poeta.

14 de out. de 2012

Negro de Branco


À despeito do que queriam os setores mais retrógrados de nossa sociedade, incluindo intelectuais e artistas, que fizeram campanhas maciças contra, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela legalização das cotas para negros,  pardos e índios. Com esta decisão, ratificou-se a dívida que o Brasil tem com essas minorias. O decreto, que regulamenta essas cotas, já foi sancionado pelo Presidenta Dilma Rousseff e já está vigorando.


O que me vem à cabeça com estas decisões é o fato de que as minorias, por um modo e uma força oculta, não conseguem chegar a patamares mais altos. Raramente, conseguimos ver negros no autoescalão, tanto em setores públicos, quanto em privados. A exceção, quando há, é logo transformada em exemplo, como se ela fosse algo corriqueiro na nossa sociedade.  Um caso bem contemporâneo é o do Ministro do STF, Joaquim Barbosa, que, apesar de ter passado por vários percalços na vida, conseguiu chegar à mais alta corte deste país. As campanhas utilizando as imagens de Joaquim para rebaixar a decisão política de nossos gestores são freqüentes nas redes sociais. Ressalta-se, mesmo assim, que o aconteceu com Joaquim Barbosa é exceção e não a regra. Basta ver quantos Ministros negros têm naquela própria corte para perceber que o percentual dará - mais ou menos - um por cento. 


Sempre que se argumentam contra as cotas, pergunto-me se um dia irei a uma consulta em que o médico será um negro. Talvez você, leitor deste texto, possa fazer uma força a fim de tentar recordar qual foi a vez em que vocês foram a uma consulta e se depararam com um médico afrodescendente. Nesse sentido, penso que seja esse disparate que as cotas possam consertar. 


Considerando que esta política pública seja de médio prazo, quem sabe, daqui a 10 anos, tenhamos mais negros formados em medicina, engenharia, arquitetura, direito e assumindo posições mais emblemáticas para sociedade. Quem sabe, daqui a 10 anos, essa pecha se transforme e, ao andar de branco, um negro não seja apenas um crente das religiões afrodescendentes (com orgulho), mas também um profissional da medicina. Afinal de contas, não somos filhos de escravos, mas de pessoas que foram escravizadas e que, por isso, devamos ser recompensadas pelas perdas sofridas durante séculos de opressão. 

26 de set. de 2012

CADA UM TEM O QUE MERECE


Não sei de onde tiraram este provérbio insignificante e descabido. Como uma praga, que se espalha rapidamente, vez ou outra escuto pessoas dizerem-no num tom de verdade que chega a me espantar. “Cada um tem o que merece”, no país onde vivo, é sinônimo de afronta ao cidadão, pura zombaria. Em terras onde a injustiça prevalece, certamente as pessoas têm o que não merecem.

Em linhas gerais, justiça é “a virtude de dar a cada um aquilo que é seu”. Dar aquilo que é seu é algo que não acontece, por aqui, na terra Brasilis. Isso salta as nossas vistas quando analisamos três áreas básicas para nossa formação é desenvolvimento: saúde, segurança e educação.

Certamente, os cidadãos brasileiros não merecem ficar 24h em hospital público para não conseguir uma consulta e, assim, ter de pagar um plano de saúde para compensar aquilo que já se paga. O cidadão não merece a falta de segurança pública, os crimes bárbaros, as dilacerações a que são submetidos todos os dias e, dessa forma, ficar preso em casas e condomínios, aos olhares de seguranças particulares, enquanto os criminosos estão livres. O cidadão não merece uma educação pobre de conteúdo, desestimulante, preconceituosa e ineficiente – como é o caso da que existe na maioria das escolas públicas deste país. Quando pode, então, paga-se ao ensino privado para se compensar a falta do que já foi pago.

Continuo. O cidadão, decerto, não merece os políticos que o representam: senadores ganham o décimo quarto e o décimo quinto salários, sem o devido desconto de imposto de renda. Ao serem cobrados pela Receita Federal para devolverem o dinheiro indevido, o Sr. Sarney (Presidente a casa) resolve que o Senado pagará a dívida. E o dinheiro, cidadão, é o seu. Com o seu dinheiro, será pago o que se deve à Receita. Nada sairá do bolso deles. Invente você de burlar a Receita Federal e verá o que acontece. Aliás, você ganha 14º e 15º salários?

A pecha em dizer que “cada um tem o que merece” é mais grave quando olhamos para desigualdade social. Nesse sentido, portanto, se justifica dar ao pobre mais pobreza e ao rico mais riqueza, num tom da mais pura verdade. Isso é justiça?  Antes de espalhar essa balela, olhe para o ônibus em que você está indo para o serviço: caro, lotado, fétido e caindo aos pedaços. Será que você merece isso, cidadão? Creio que não. Portanto, não se martirize. Quase ninguém tem o que merece. 

6 de ago. de 2012

Quadro de Medalhas

Para quem não consegue enxergar o que representa a força da desigualdade social no Brasil, basta olhar o quadro de medalhas nas olimpíadas de Londres para compreender um pouco. A desigualdade social, o foço que separa os mais rico dos mais pobre, e a corrupção que assola nossa Nação devem ser os cânceres mais benigno que devemos enfrentar, "tete a tete", com coragem e vigor.

Ao que tudo indica, somos a quinta potência mundial - levando em consideração a grandeza do PIB que temos. Porém, o fato de sermos uma nação rica (sim, hoje somos uma nação rica), isso não se reflete na prática. Ainda temos sérios problemas quando o assunto é saúde, segurança e educação: os altos impostos pagos por todos os cidadãos não se transformam em melhorias em saneamento básico e infraestrutura. 

Quando se fala em esportes, que é parte da educação, fica configurada a falta de investimentos numa área de tamanha importância. Ao olhar o quadro geral de medalhas dos jogos, percebemos que todos os países desenvolvidos, incluindo os quatros primeiros em relação ao PIB, estão numa boa colocação. Posso afirmar que as dez maiores potências mundiais estão na nossa frente. Sabem por quê isso acontece? Acontece porque a lógica tamanho do PIB é acompanhada também pelo tanto que se é investido em educação e no esporte. Mas não é isso que envergonha, o quê envergonha é estarmos atrás de países com o Produto Interno Bruto bem menor que o do Brasil, como é o caso Cazaquistão, Coreia do Norte, Ucrânia, Cuba. Não que esses países sejam piores que o nosso, mas é que além de sermos mais rico, somos um país mais "democrático", se é que somos mesmo. 

O fato de termos países mais pobres e com a democracia menos fortalecida que a nossa numa colocação melhor no quadro de medalhas olímpica se explica porque, apesar de esses fatores negativos, eles têm menos desigualdade social e, sobretudo, mais investimento em nível educacional e esportivo. Nesses países o nível de corrupção também é baixo: o que será que aconteceria com um político acusado de corrupção na Coreia do Norte, por exemplo?  

Tivemos uma chance de dividir melhor o bolo no governo Fernando Henrique Cardoso, temos outra chance agora. Além do mais, teremos uma olimpíada aqui no Brasil. Se não houver investimento nos esportes neste ciclo, não haverá nunca mais. Isso é fato. A chance é única. Temos tudo para fazer um ciclo olímpico bom, sério e condizente com a força e tamanho desta nação. Para isso, basta seguir a lógica que os países sérios seguem: quanto maior o  PIB, maior investimento em educação. 



19 de jul. de 2012

Organização Total!


Caros leitores, estamos à beira do julgamento do chamado “mensalão do PT” e o que me vem à mente é se o crime organizado de fato se organizou. Sei que a informação ficou meio dicotômica, mas o que acontece é que sempre ouvi falar de especialistas que “no dia em que o crime se organizar, aí sim este país estaria perdido”. Em outras palavras, o que estava ruim poderia piorar.


Essa teoria de que o crime não era organizado nunca ficou muito claro para mim, porque sempre o vi agindo organizadamente, desde as facções criminosas montadas nas favelas até as montadas no Congresso Nacional. Vou-me ater naquelas montadas para surrupiar os cofres públicos, as do Congresso. Provo que sempre foram muito bem organizadas. 


A palavra “mensalão” foi inaugurada, teve sua gênese no Governo Lula, mas esse crime é mais antigo do que imaginamos. Quem introduziu esta prática foi o Sr. Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Para que houvesse o direito à reeleição, o facínora organizou o pagamento de propina para que deputados e senadores votassem a favor da emenda que o favorecia.  Deu tudo certo, foi reeleito. Não foi investigado porque seu grande amigo Geraldo Brindeiro, então Procurador-Geral da República, não oferecia denúncia contra ninguém. Mais tarde, esse mesmo Procurador logrou o apelido de “Engavetador-Geral”.


Depois teve um outro mensalão, agora em Minas Gerais (em 1998). O mensalão de Minas, que envolvia o Senador Eduardo Azeredo (um dos fundadores do PSDB) e o nada conhecido Marcos Valério, consistia em organizar um esquema para financiamento irregular da campanha de reeleição de Azeredo, então governador de Minas Gerais. Em 2005, já no Governo Lula,  aconteceu o mensalão como conhecemos, que consistia em comprar votos de deputados e senadores para que propostas do governo fossem aprovadas. Quem organizava todo o esquema era Marcos Valério (nada conhecido) e José Dirceu – ex chefe da Casa Civil – e amigo, braço direito, de Lula.


O mais nefasto de todos os mensalões aconteceu aqui no DF, em 2009, sob o Governo de José Roberto Arruda e envolveu praticamente todos os três poderes e o Ministério Público. O mensalão do DEM consistia em burlar licitações para pagar deputados a fim de que projetos do então governador fossem aprovados. Era dinheiro público para todos os lados, a propina era geral. Procuradores, empresários, deputados e deputadas todos ganharam menos a sociedade. E o mais contemporâneo é caso Cachoeira, que tinha como aliado o ex Senador Demóstenes, e exerce sua influência no Estado de Goiás, DF e Tocantins, tudo organizadamente.



Se todos esses casos - pretéritos e presente - não são exemplos de crime organizado, o que será então? À beira de sediar a copa do mundo e os jogos olímpicos, com dinheiro público jorrando para todos os lados, numa desorganização absoluta e à mercê de verdadeiros larápios, não há outro pensamento senão aquele que diz que "as coisas nunca estão tão ruins que não possam piorar”. Se achas que está ruim, caro leitor, espere e verá: pior ainda pode ficar. Ainda bem que eles não descobriram que o problema é celular. 


22 de jun. de 2012

MULHER BRASILEIRA



Apesar de não ser dia das mulheres, dedico este texto a elas. Dedico porque elas têm sido exemplo de hombridade, de caráter, de dignidade, principalmente na seara política.

Maquiavel nos ensinou que “a política tem ética e moral próprias”. Quando ele escreveu esse pensamento, penso que tinha em seu imaginário não a política em si, mas os políticos...brasileiros, é claro! Ética é conjunto de princípios que valem, que norteiam, que orientam a todos, ela está arraigada na própria humanidade. Moral é a forma concreta, prática de como a ética é vivida, ela é definida de acordo com cada cultura. A ética é para todos; a moral é conforme cada cultura organiza sua vida. Exemplos disso são os indígenas, japoneses, ciganos, beduínos.

“Os políticos brasileiros não têm ética e nem moral!” há quem esbraveje isso aos quatros cantos do mundo. Pura mentira! Eles as têm sim, só que elas são diferentes das nossas, elas fogem ao nosso senso do que é certo e o que é errado. Só isso.

Ontem, vi uma foto dos Senhores Fernando Haddad, Lula e Maluf juntos. Por várias vezes, ouvi especialistas dizerem que Haddad foi um dos melhores ministros da educação da do país. Se eu tinha alguma dúvida disso, não a tenho mais: educação e ignorância não se misturam. Eu também já ouvi dizer que Lula foi o maior Presidente da história do Brasil. Tenho lá minhas dúvidas: em nome da governabilidade, já o vi abraçado com adversários políticos históricos, alguns inescrupulosos: Sarney, Collor, Fernando Henrique Cardoso. Eu só não o imaginava de mãos dadas com Maluf, que não é adversário político, mas um inimigo.

Maluf, depois de outro político já citado, é sem dúvida o representante mais asqueroso em atividade. Sem caráter, facínora, caso ele coloque os pés fora do Brasil, é preso de imediato. Procurado internacionalmente, tem ficha cadastral na Interpol. Não é preso no Brasil por conta das benesses das leis daqui e das próprias maracutaias que faz a fim de não ir parar no xilindró.

E onde entram as mulheres nessa história? Luíza Erundina opôs-se a compor chapa como vice de Haddad, ao constatar que Maluf seria parte da coligação. Recusou-se porque a ética e a moral dela são diferentes das do gatuno. Negou-se porque a história de vida dela se entrechoca com a do canalha: enquanto ela era uma militante das Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s, ele apoiava a ditadura. “Água e óleo não se misturam” – disse ela.

Orgulhou-me a atitude honrosa de Erundina. Não se rendeu ao jogo político, que – por vezes – se mistura e estraçalha à própria história da pessoa. No jogo político, não vale tudo e os fins não justificam os meios. Mas Erundina não tem sido a única a tomar decisões firmes. Também nossa Presidenta tem agido com vigor na condução de sua administração e, até agora, está nos representando muito bem. Outra mulher de coragem é a Corregedora do CNJ, Ministra Eliana Calmon. Outro dia teve a firmeza de declarar que “há bandidos escondidos atrás da toga”. Foi execrada pelos seus pares, contudo não retrocedeu. Ao falar isso, veio-me à cabeça um ministro do STF bastante conhecido. Mulher brasileira: firme, vigorosa e corajosa.

Água e óleo não se misturam. As nossas mulheres políticas parecem compreender melhor o que é certo e o que é errado. Parecem ter uma noção mais aguçada do que seja a ética e a moral dos brasileiros, ao passo que eles (os políticos) têm as suas próprias. Como no caso de Lula, que – inebriado pelo poder – tem agido de forma no mínimo estranha e feito todo tipo negociata para se manter nele. Creio que o tratamento com drogas para curar o câncer tem-no deixado demente. 

22 de mar. de 2012

A HORA DA ESTRELA

Quem não se lembra de “A hora da Estrela”, obra máxima de Clarice Lispector, que conta a história de uma retirante nordestina que vai tentar a vida no Rio de Janeiro e acaba por sofrer várias privações na vida?


Macabéa era uma desgraçada, com perdão da palavra. Raquítica, tola, solitária, porém doce e obediente, ela acreditava que foi jogada ao mundo. Não tinha objetivos na vida e nem sonhos, a não ser o de ser uma estrela de cinema. Consegue ser brilhante, como uma estrela, bem na hora da morte, quando é atropelada.


Lispector era uma visionária, ela tinha esse incrível poder de antever as coisas. Quantas Macabéas existem ou deixaram de existir? Várias, sem dúvida. Eu conheci uma esses dias, o nome dele era Wanderson Pereira dos Santos, 30 anos, ciclista. Fez tudo errado na hora da morte. “Disinfiliz”, como diz minha mãe.


Ajudante de caminhão, ele fez o favor de atravessar a pista bem na hora em que Thor – este Deus ou Semideus - ia passando com seu veículo automotor de grande propulsão e de alto valor financeiro. Amassou o carro da entidade multibilionária, causando um prejuízo econômico sem precedentes para o Transcendente. Apenas perdeu a vida.


Apenas. Mas os deuses, eles não se contentam somente com nossa humilde vida miserável. Pragas que somos, câncer do mundo. Eles querem mais, eles querem vingança. A vida por si só não basta.


Eis então que Thor, num excesso de fúria, contrata o maior, o melhor, o mais radiante e caro advogado para lhe defender: Marcio Thomas Bastos. Ex-ministro da Justiça, sabe tudo em direito penal, processo penal, conhece como ninguém as brechas da lei, manja tudo de “karatê”. O objetivo deste áureo advogado, além de defender a causa do Deus, é fazer com que Wanderson pague pelo crime que ele cometeu: atravessar a pista, a fim de atropelar a Mercedez de Thor com a sua humilde bicicleta, numa BR, expondo, dessa forma, imagem do superior a todos, ofuscando a luz dele por alguns dias e avocando a si o brilho da estrela. Sim, cometeu o crime de ofuscar Thor, teve a sua hora da estrela e, por isso, tudo indica que o finado vai parar na cadeia. É o que lhe resta, absurdo que seja.


Para que isso aconteça, só depende mesmo de um outro deus, acostumado também a usar um martela, mui amigo dos bilionários: o juiz. Claramente, ele decidirá a causa em favor do corporativismo.


Wanderson, seu desgraçado, infeliz e miserável pague pelo crime que você cometeu! “morreu na contramão atrapalhando o tráfego...” fico aqui cantarolando.

7 de mar. de 2012

Aqui não, JACARÉ!


Tenho pensado muito no carnaval. Aliás, tenho pensado na tentativa banal de um comediante desses novos da TV de bani-lo. Foi uma campanha mal sucedida, compartilhada por muito poucos, quase ninguém na verdade, projetada pelo Facebook.  Segundo a proposta insana, isso ajudaria na melhoria da imagem do brasileiro no exterior, na diminuição do HIV; na melhoria das nossas rendas, pois o país não ficaria tanto tempo parado em comemoração, e o dinheiro aplicado nele iria para educação. Ou seja, os problemas sofridos pelo país o ano inteiro, desde a sua fundação, se devem à festa, a apenas cinco dias.

Chato mesmo são os poucos que são a favor da campanha do piadista. Geralmente, falam demais, escrevem demais e, na prática, fazem de menos.


Pouco sei da história de Jesus, não ousaria aqui falá-la, contudo é sabido que Ele mais fez do que falou. Sabem porquê? Porque o que vale é a prática, é a mão na massa. Foi assim não somente com Ele, mas com quase todos líderes religiosos já conhecidos. Aliás, um dos maiores, que já passou por aqui, mostrou-nos como se faz direitinho. Chamava-se Mahatma Gandhi: caminhou quase 400 quilômetros, de forma pacifista, durante 25 dias, só para pegar um pouco de sal no mar de sua terra, a fim de livrar o seu povo da opressão dos ingleses, que nada puderam fazer contra o ato. A Marcha do Sal.


Os poucos que aderiram à malfadada campanha, são os poucos que todos os dias colocam no Facebook palavras de ordem de cunho religioso. Contraditório é saber que eles gozaram, e muito bem, o carnaval e agora querem bani-lo. Claro! Até chegar os outros carnavais: Caldas Country, Carnagoiania, Festa Trio e tantas outros. São os mesmos que tiram foto de sunga e biquíni, copo de cerveja, whisky e red Bull na mão, ao mesmo tempo em que escrevem contra a festa “pagã”. Falam demais, fazem de menos. Paradoxal.


Aqui não, Jacaré! Se você é contra, tente ao menos caminhar em linha reta, de forma menos contraditória possível. Não me venha com estratagemas simples, rasos e, sobretudo, contrários à sua própria conduta. Não bastam as palavras, mais vale a ação. 

25 de jan. de 2012

Nem tudo que reluz é ouro!

Há duas semanas estou em São Paulo. Mais exatamente em Guarulhos, no centro da cidade, onde tudo é lindo e funciona muito bem. Hospedado em um hotel cinco estrelas, muito confortável, meu itinerário aqui é hotel/serviço, serviço/hotel. Cumpro minhas obrigações no Aeroporto Internacional de Cumbica; se não me engano, o maior da América Latina.Vejo de tudo todos os dias: desde as estrelas da Televisão brasileira e internacional, passando por esportistas, até pobres coitados vindos de alguns países latinos e muitos do continente africano.

Acontece que resolvi sair do meu casulo para ir ao Centro de São Paulo. Peguei a condução para o Aeroporto; de lá, um ônibus para Tatuapé. Chegando em Tatuapé, entrei no metrô e fui até a Barra Funda. Na barra funda, peguei o trem até um bairro chamado de “Lapa”. E, enfim, cheguei ao meu destino, no órgão ao qual sou lotado. No meio da periferia, logo que desci do trem, já senti uma grande diferença em relação ao lugar onde estou hospedado. Estranhei, o contraste social era imenso. Fiz o que tinha de fazer rapidamente a fim de que, na volta, não tivesse que pegar as mesmas conduções em horário de pico. Embarquei no trem sentido barra funda, para lá pegar o metrô. O veículo é velho e barulhento. Fiquei em pé. As diferenças sociais entre os passageiros do trem e do metro saltam as vistas.

Eis que entra uma jovem, eufórica, soltando os bofes pela boca diz para um rapaz que estava sentado:

- Aquele negão que quase te matou na Piqueri está no outro vagão, Nico.
-Tá mesmo? Indagava Nico, um rapaz moreno, boné fincado até os olhos, tatuagem típica de quem as fez confeccionou na cadeia; camisa, é claro, do Corinthians.
-Sim, ele está – gritava a jovem eufórica. Ele viu o Pixote. Quando “nois chegar” na outra estação, ele vai “vim” aqui. Certeza. Ele sabe que o Pixote anda contigo.
-Pixote, ele está lá? “Está”. Falava o Pixote, um rapaz ruivo, tatuagens, sem demonstrar o mínimo de preocupação. Sorriso sagaz no rosto.
-Porra, Pixote, eu não falei pra você ficar no outro lado, senão o negão vai ver o Nico? “Porra, carai”, vá pra lá. Dizia a menina.
Antes de ir para a outra ponta do vagão, para evitar de o Negão ver o Nico, Pixote interrogou:
-Nico, você está carregado aí?
-Sim, estou.
-Pô! “vamu” lá fazer esse cara então, parceiro?
-Só!
-Fica aí, não levanta pra nada, abaixe a cabeça e fica quieto. Afirmava, com tom de autoridade, a garota.


Leitores, depois dessa conversa toda, vocês já devem estar imaginando meu estado de aflição. Sim, meus olhos estavam esbugalhados de medo, soei frio. A cadeira encostada na janela vagou e eu fui logo sentar nela, no ponto certinho de pular do trem, caso a situação demandasse esta medida.

A outra estação seria o momento decisivo de toda esta confusão. Será lá que o negão saltará do vagão onde ele está e irá para o vagão onde estou, à procura do Nico, para acertarem mais uma vez a conta. Na minha cabeça, alguém irá morrer ali e, para não sobrar um tiro para mim, eu iria pular do trem, mesmo que em movimento. Para completar, o fato de eu estar em um bairro menos privilegiado de São Paulo me aguçava ainda mais o medo.

Não parava de pensar no fato, o trem caminhava rápido, estávamos perto da estação. Nico abaixou mais ainda o boné, colocou uma mochila pesada em baixo da cadeira e esperou chegar, certamente ali estava a arma, carregada, é claro. Eu com os olhos sempre em direção a ele para ver sua reação. Olhava para a outra ponta para ver se os companheiros dele estavam tramando algo. Não, estavam lá quietinhos. Nico suava pouco e meu estado de nervo estava no pico. Pensei: “Caramba, saí da Ceilândia para morrer logo em São Paulo. Que merda!”.

Chegamos, a porta se abriu. Quase que rezando, pensava baixo: “pelo amor de qualquer coisa, Negão, não saia daí, não saia”. Nico de cabeça baixa e eu olhando para porta e rezando. Desceu um fio de suor. Nico de braços cruzado, boné baixo, sempre olhando na direção da qual poderia surgir o tal Negão. Os meus olhos soltando fumaça.

As portas se fecharam. O negão não veio e eu não tive que pular do trem. Respirei fundo, fiquei aliviado, deu até uma sensaçãozinha no meu nariz - igual àquele de quando cai água dentro dele e depois a água sai.

Nico então pegou a bolsa, que estava em baixo do banco e foi para o encontro de seus amigos que estavam na outra ponta. Não demorou muito, começou a gritaria vindo lá da frente:

-Trident é só um real, não engorda, não estraga os dentes. E dá sensação de alívio!
-Trident é só um real, não engorda, não estraga os dentes. E dá sensação de alívio!

Como assim?
Esclareço os fatos: nos trens de São Paulo, os vendedores brigam por espaço de venda. Um não pode invadir o território do outro. Nico e Pixote estavam fazendo isso, estavam invadindo o espaço de outrem, o território alheio. Desta vez, eles se deram bem; na passada, Nico levou uma sova. Briga de sacoleiros, na verdade. A mochila estava carregada, só que de guloseimas. “Nem tudo que reluz é ouro”.

Em mim, pesou o preconceito. Morando em um flat, com piscina, sauna, academia, no centro de Guarulhos, acabei por me esquecer que sou morador da Ceilândia, um lugar violento. Saí do castelo, como fez Sidartha Gautama (o Buda original) e acabei descobrindo que o meu mundo não é este, mas aquele. Caí, então, na real.Fica a lição!

Flávio Rossi

Minha foto
Ceilândia, DF, Brazil
Posso não concordar com suas palavras, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las - Voltaire