À despeito do que queriam os
setores mais retrógrados de nossa sociedade, incluindo intelectuais e artistas,
que fizeram campanhas maciças contra, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela
legalização das cotas para negros, pardos e índios. Com esta decisão,
ratificou-se a dívida que o Brasil tem com essas minorias. O decreto, que
regulamenta essas cotas, já foi sancionado pelo Presidenta Dilma Rousseff e já está vigorando.
O que me vem à cabeça com estas
decisões é o fato de que as minorias, por um modo e uma força oculta, não
conseguem chegar a patamares mais altos. Raramente, conseguimos ver negros no
autoescalão, tanto em setores públicos, quanto em privados. A exceção, quando
há, é logo transformada em exemplo, como se ela fosse algo corriqueiro na nossa
sociedade. Um caso bem contemporâneo é o
do Ministro do STF, Joaquim Barbosa, que, apesar de ter passado por vários
percalços na vida, conseguiu chegar à mais alta corte deste país. As campanhas
utilizando as imagens de Joaquim para rebaixar a decisão política de nossos
gestores são freqüentes nas redes sociais. Ressalta-se, mesmo assim, que
o aconteceu com Joaquim Barbosa é exceção e não a regra. Basta ver quantos Ministros negros têm naquela própria corte para perceber que o percentual dará - mais ou menos - um por cento.
Sempre que se argumentam contra
as cotas, pergunto-me se um dia irei a uma consulta em que o médico será um
negro. Talvez você, leitor deste texto, possa fazer uma força a fim de tentar
recordar qual foi a vez em que vocês foram a uma consulta e se depararam com um
médico afrodescendente. Nesse sentido, penso que seja esse disparate que as
cotas possam consertar.
Considerando que esta política pública seja de médio prazo, quem sabe, daqui a 10 anos, tenhamos
mais negros formados em medicina, engenharia, arquitetura, direito e assumindo
posições mais emblemáticas para sociedade. Quem sabe, daqui a 10 anos, essa
pecha se transforme e, ao andar de branco, um negro não seja apenas um crente
das religiões afrodescendentes (com orgulho), mas também um profissional da medicina. Afinal
de contas, não somos filhos de escravos, mas de pessoas que foram escravizadas
e que, por isso, devamos ser recompensadas pelas perdas sofridas durante séculos de
opressão.