Quem disse que religião, política e fubebol não se discutem?

No popular, houve-se muito que "religião, política e futebol" não se discute (sic). Na verdade, o dizer não incluía o termo "política", ele só foi incorporado mais tarde, pela elite e pelos próprios políticos, a fim de evitar o debate e os questionamentos político entre as pessoas. Dessa forma, sem o debate, como poderia eu estabelecer meu posicionamento e também aprender com o próximo? Debates ajudam a esclarecer, ajudam no ceticismo, no questionamento. Além do mais, não só a política, mas também a religião e o futebol são passíveis de debates, desde que ambas as pessoas estejam dispostas a não somente falar, mas, antes de mais nada, escutar e aprender. Debatamos, então, sim.







14 de out. de 2012

Negro de Branco


À despeito do que queriam os setores mais retrógrados de nossa sociedade, incluindo intelectuais e artistas, que fizeram campanhas maciças contra, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela legalização das cotas para negros,  pardos e índios. Com esta decisão, ratificou-se a dívida que o Brasil tem com essas minorias. O decreto, que regulamenta essas cotas, já foi sancionado pelo Presidenta Dilma Rousseff e já está vigorando.


O que me vem à cabeça com estas decisões é o fato de que as minorias, por um modo e uma força oculta, não conseguem chegar a patamares mais altos. Raramente, conseguimos ver negros no autoescalão, tanto em setores públicos, quanto em privados. A exceção, quando há, é logo transformada em exemplo, como se ela fosse algo corriqueiro na nossa sociedade.  Um caso bem contemporâneo é o do Ministro do STF, Joaquim Barbosa, que, apesar de ter passado por vários percalços na vida, conseguiu chegar à mais alta corte deste país. As campanhas utilizando as imagens de Joaquim para rebaixar a decisão política de nossos gestores são freqüentes nas redes sociais. Ressalta-se, mesmo assim, que o aconteceu com Joaquim Barbosa é exceção e não a regra. Basta ver quantos Ministros negros têm naquela própria corte para perceber que o percentual dará - mais ou menos - um por cento. 


Sempre que se argumentam contra as cotas, pergunto-me se um dia irei a uma consulta em que o médico será um negro. Talvez você, leitor deste texto, possa fazer uma força a fim de tentar recordar qual foi a vez em que vocês foram a uma consulta e se depararam com um médico afrodescendente. Nesse sentido, penso que seja esse disparate que as cotas possam consertar. 


Considerando que esta política pública seja de médio prazo, quem sabe, daqui a 10 anos, tenhamos mais negros formados em medicina, engenharia, arquitetura, direito e assumindo posições mais emblemáticas para sociedade. Quem sabe, daqui a 10 anos, essa pecha se transforme e, ao andar de branco, um negro não seja apenas um crente das religiões afrodescendentes (com orgulho), mas também um profissional da medicina. Afinal de contas, não somos filhos de escravos, mas de pessoas que foram escravizadas e que, por isso, devamos ser recompensadas pelas perdas sofridas durante séculos de opressão. 

Flávio Rossi

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Posso não concordar com suas palavras, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las - Voltaire