Quem disse que religião, política e fubebol não se discutem?

No popular, houve-se muito que "religião, política e futebol" não se discute (sic). Na verdade, o dizer não incluía o termo "política", ele só foi incorporado mais tarde, pela elite e pelos próprios políticos, a fim de evitar o debate e os questionamentos político entre as pessoas. Dessa forma, sem o debate, como poderia eu estabelecer meu posicionamento e também aprender com o próximo? Debates ajudam a esclarecer, ajudam no ceticismo, no questionamento. Além do mais, não só a política, mas também a religião e o futebol são passíveis de debates, desde que ambas as pessoas estejam dispostas a não somente falar, mas, antes de mais nada, escutar e aprender. Debatamos, então, sim.







26 de set. de 2012

CADA UM TEM O QUE MERECE


Não sei de onde tiraram este provérbio insignificante e descabido. Como uma praga, que se espalha rapidamente, vez ou outra escuto pessoas dizerem-no num tom de verdade que chega a me espantar. “Cada um tem o que merece”, no país onde vivo, é sinônimo de afronta ao cidadão, pura zombaria. Em terras onde a injustiça prevalece, certamente as pessoas têm o que não merecem.

Em linhas gerais, justiça é “a virtude de dar a cada um aquilo que é seu”. Dar aquilo que é seu é algo que não acontece, por aqui, na terra Brasilis. Isso salta as nossas vistas quando analisamos três áreas básicas para nossa formação é desenvolvimento: saúde, segurança e educação.

Certamente, os cidadãos brasileiros não merecem ficar 24h em hospital público para não conseguir uma consulta e, assim, ter de pagar um plano de saúde para compensar aquilo que já se paga. O cidadão não merece a falta de segurança pública, os crimes bárbaros, as dilacerações a que são submetidos todos os dias e, dessa forma, ficar preso em casas e condomínios, aos olhares de seguranças particulares, enquanto os criminosos estão livres. O cidadão não merece uma educação pobre de conteúdo, desestimulante, preconceituosa e ineficiente – como é o caso da que existe na maioria das escolas públicas deste país. Quando pode, então, paga-se ao ensino privado para se compensar a falta do que já foi pago.

Continuo. O cidadão, decerto, não merece os políticos que o representam: senadores ganham o décimo quarto e o décimo quinto salários, sem o devido desconto de imposto de renda. Ao serem cobrados pela Receita Federal para devolverem o dinheiro indevido, o Sr. Sarney (Presidente a casa) resolve que o Senado pagará a dívida. E o dinheiro, cidadão, é o seu. Com o seu dinheiro, será pago o que se deve à Receita. Nada sairá do bolso deles. Invente você de burlar a Receita Federal e verá o que acontece. Aliás, você ganha 14º e 15º salários?

A pecha em dizer que “cada um tem o que merece” é mais grave quando olhamos para desigualdade social. Nesse sentido, portanto, se justifica dar ao pobre mais pobreza e ao rico mais riqueza, num tom da mais pura verdade. Isso é justiça?  Antes de espalhar essa balela, olhe para o ônibus em que você está indo para o serviço: caro, lotado, fétido e caindo aos pedaços. Será que você merece isso, cidadão? Creio que não. Portanto, não se martirize. Quase ninguém tem o que merece. 

Flávio Rossi

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Posso não concordar com suas palavras, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las - Voltaire