Há algum tempo queria falar sobre o que está acontecendo na favela de Heliópoles. Mas me achei sem informação suficiente para emitir um juízo de valor; afinal de contas, até então, não se sabia de qual arma havia saído a munição que havia matado a jovem de 17 anos, Ana Cristina Macedo. Até então, porque o resultado do laudo balístico saiu e, para a minha surpresa, quem efetuou o disparo que matou a jovem foi um policial. Quanta surpresa!
Dado os fatos e mais toda a reprimenda que a população que vive nas periferias sofre, é justo os protestos dos moradores de Heliópoles. E mesmo que não tivesse acontecido o assassinato, mesmo assim os protestos seriam legítimos. Indigna é a imprensa brasileira, que há tempos noticia somente o que a interessa, não procura aprofundar a questão: será mesmo que algum repórter procurou saber dos próprios moradores qual a opinião deles? Na favela de Heliópoles há escolas suficientes para formar jovens para o mercado de trabalho? Há lá postos de saúde que atenda às necessidades da população? Há segurança? Há um mínimo de saneamento básico? Há lazer? De fato, todas essas indagações acima são antigas, mas elas persistem e creio que, enquanto não houver uma solução para todas elas, será legítima as ações de cidadãos que moram nas favelas Brasil a fora. Falo cidadãos, porque a imprensa insisti em chamar aquelas pessoas de vândalos ou marginais. Marginais são sim, estão à margem da sociedade por falta de política pública que viabilize a emancipação e o desenvolvimento daquele povo.
Essa falta de aprofundamento nas questões fez-me lembrar uma revolta que aconteceu e começou em Clichy-sous-Bois, na França, em 2005. À época, dois jovens morreram ao tentar se esconder da polícia, que os perseguia, dentro de um transformador de alta tensão. Os jovens morreram eletrocutados. O fato serviu de estopim para uma onda de protestos em quase toda as periferias da França.
A impressa brasileira, com toda sua “imparcialidade”, retratava os fatos de forma vazia. Dizia – com as mesmas palavras dirigidas aos moradores de Heliópoles – que vândalos e marginais atearam fogo em carros e escolas, mas não procurava entender o porquê do atear fogo em carros e escolas, até porque assim fica muito mais fácil e é muito mais eficaz de se manipular a opinião dos leitores e dos telespectadores, alienando-nos, fazendo um certo “terrorismo midiático”. Explico.
O ato de atear fogo em carro e em escolas, na França, não era apenas uma questão de vandalismo esvaziada de significação. Por que carros e escolas? Carros para atingir justamente o símbolo do capitalismo e do consumismo exarcebado. Nada representa tão bem hoje o consumismo desenfreado que o veículo automotor. Ele exerce um fascínio e dá uma sensação de poder: quem tem o melhor é o mais endinheirado e, portanto, terá mais acesso às coisas do poder. E quando o carro fica ultrapassado é só trocá-lo por outro do ano que assim mantém-se o poder perenemente. E escolas? Incendiar escolas significava mostrar que era por causa delas que aqueles jovens estavam sendo oprimidos. Sem um ensino universal e de qualidade não há como sobreviver em mundo capitalista. A escola representa, hoje, a liberdade ou não do cidadão. É por ela que se adquirirá conhecimento de causa, que refletirá mais tarde nas urnas, por exemplo.É por ela que se conseguirá um conhecimento metodológico imprescindível para o mercado de trabalho. Caso não haja acesso a uma escola com boa qualidade de ensino, não há como competir numa boa vaga de emprego, o que acaba te levando a um sub-emprego e, conseqüentemente, à periferia (novas formas de escravidão). Isso acontece lá e aqui também, por “mera coincidência”. As revoltas serviram, ainda, para mostrar ao mundo que existe favela em países europeus, ao contrário do que se era noticiados até então.
Há mais em comum entre Brasil e França do que se imagina: os atos propagados pelos moradores dos subúrbios francês foram contidos por meio da força bruta policial – assim como em Heliópoles.
Não custa nada lembrar, além do mais, que o Ministro do Interior daquela nação, à época, responsável direto pelas contenções aos revoltosos é hoje o tão conhecido Nicola Sarkozy, amigo do Brasil. E o fato de ter contido as revoltas à base da cacetada, adicionado à ajuda financeira da burguesia francesa o fez popular e, assim, ganhar as eleições.
Ao prestarmos atenção nas notícias, quaisquer que sejam, até mesmo às distorções ou meias verdades sensacionalistas que passam como informação na grande imprensa, perceberemos que vivemos num momento complexo e aparentemente louco. A nossa própria vida pode parecer terrivelmente complicada, às vezes; como se os conflitos fossem insolúveis.
Dado os fatos e mais toda a reprimenda que a população que vive nas periferias sofre, é justo os protestos dos moradores de Heliópoles. E mesmo que não tivesse acontecido o assassinato, mesmo assim os protestos seriam legítimos. Indigna é a imprensa brasileira, que há tempos noticia somente o que a interessa, não procura aprofundar a questão: será mesmo que algum repórter procurou saber dos próprios moradores qual a opinião deles? Na favela de Heliópoles há escolas suficientes para formar jovens para o mercado de trabalho? Há lá postos de saúde que atenda às necessidades da população? Há segurança? Há um mínimo de saneamento básico? Há lazer? De fato, todas essas indagações acima são antigas, mas elas persistem e creio que, enquanto não houver uma solução para todas elas, será legítima as ações de cidadãos que moram nas favelas Brasil a fora. Falo cidadãos, porque a imprensa insisti em chamar aquelas pessoas de vândalos ou marginais. Marginais são sim, estão à margem da sociedade por falta de política pública que viabilize a emancipação e o desenvolvimento daquele povo.
Essa falta de aprofundamento nas questões fez-me lembrar uma revolta que aconteceu e começou em Clichy-sous-Bois, na França, em 2005. À época, dois jovens morreram ao tentar se esconder da polícia, que os perseguia, dentro de um transformador de alta tensão. Os jovens morreram eletrocutados. O fato serviu de estopim para uma onda de protestos em quase toda as periferias da França.
A impressa brasileira, com toda sua “imparcialidade”, retratava os fatos de forma vazia. Dizia – com as mesmas palavras dirigidas aos moradores de Heliópoles – que vândalos e marginais atearam fogo em carros e escolas, mas não procurava entender o porquê do atear fogo em carros e escolas, até porque assim fica muito mais fácil e é muito mais eficaz de se manipular a opinião dos leitores e dos telespectadores, alienando-nos, fazendo um certo “terrorismo midiático”. Explico.
O ato de atear fogo em carro e em escolas, na França, não era apenas uma questão de vandalismo esvaziada de significação. Por que carros e escolas? Carros para atingir justamente o símbolo do capitalismo e do consumismo exarcebado. Nada representa tão bem hoje o consumismo desenfreado que o veículo automotor. Ele exerce um fascínio e dá uma sensação de poder: quem tem o melhor é o mais endinheirado e, portanto, terá mais acesso às coisas do poder. E quando o carro fica ultrapassado é só trocá-lo por outro do ano que assim mantém-se o poder perenemente. E escolas? Incendiar escolas significava mostrar que era por causa delas que aqueles jovens estavam sendo oprimidos. Sem um ensino universal e de qualidade não há como sobreviver em mundo capitalista. A escola representa, hoje, a liberdade ou não do cidadão. É por ela que se adquirirá conhecimento de causa, que refletirá mais tarde nas urnas, por exemplo.É por ela que se conseguirá um conhecimento metodológico imprescindível para o mercado de trabalho. Caso não haja acesso a uma escola com boa qualidade de ensino, não há como competir numa boa vaga de emprego, o que acaba te levando a um sub-emprego e, conseqüentemente, à periferia (novas formas de escravidão). Isso acontece lá e aqui também, por “mera coincidência”. As revoltas serviram, ainda, para mostrar ao mundo que existe favela em países europeus, ao contrário do que se era noticiados até então.
Há mais em comum entre Brasil e França do que se imagina: os atos propagados pelos moradores dos subúrbios francês foram contidos por meio da força bruta policial – assim como em Heliópoles.
Não custa nada lembrar, além do mais, que o Ministro do Interior daquela nação, à época, responsável direto pelas contenções aos revoltosos é hoje o tão conhecido Nicola Sarkozy, amigo do Brasil. E o fato de ter contido as revoltas à base da cacetada, adicionado à ajuda financeira da burguesia francesa o fez popular e, assim, ganhar as eleições.
Ao prestarmos atenção nas notícias, quaisquer que sejam, até mesmo às distorções ou meias verdades sensacionalistas que passam como informação na grande imprensa, perceberemos que vivemos num momento complexo e aparentemente louco. A nossa própria vida pode parecer terrivelmente complicada, às vezes; como se os conflitos fossem insolúveis.
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