“No planeta bizarro, as paredes são portas”. Eram com essas palavras que um narrador (onisciente) descrevia o mundo de um dos inimigos do Super-homem: o Bizarro. Às vezes, sinto-me às avessas, em pleno mundo bizarro.
A música mudou, os modos mudaram, as relações enfraqueceram. Brigas no trânsito acabam em pancadaria generalizada; uma pisada no pé na balada termina em tiroteio; elogio é chamar a mulher de “cachorra”.
Somado ao apelo sexual, programas humorísticos se utilizam da fraqueza, da deficiência física e/ou psicológica de outrem para fazer piada sem graça, porém de fácil aceitação: colocar um viciado em drogas em rede nacional gerou um bom lucro a um desses programas, contudo não houve uma contrapartida quando o mesmo viciado foi preso por portar entorpecente: Será que a emissora está ajudando no tratamento do vício do rapaz? É quase certeza que não. Parece ser bom rir de um gay tolo e paspalhão ou de um negro caricatural. Vamos abrir aspas aqui: não por acaso o negro é representado assim na Televisão brasileira, basta lembrar-se do Grande Otelo e do Mussum. Quem os conheceu afirma que eles tinham recursos técnicos que iam além do "revirar de lábios" (no caso aqui "beiços") de Otelo ou da hebriedade de Mussum, contudo mais vale para esta sociedade "sem preconceitos" negros caricaturais, banguelos, etílicos e preguiçosos. Fecha aspas. Dentro desta cultura imbecil, há quem passe o domingo dando gargalhadas, assistindo a essas besteiras.
No planeta bizarro, a violência é gratuita. E é nesse sentido que alguns programas trocam salada por "presunto" - como no caso do quadro encabeçado por Ana Maria Braga, na Globo.
No planeta bizarro, a violência é gratuita. E é nesse sentido que alguns programas trocam salada por "presunto" - como no caso do quadro encabeçado por Ana Maria Braga, na Globo.
No planeta bizarro, mais vale o trabalho da pessoa que ela em si mesma. Lembra-se muito o que se faz profissionalmente e se esquece as qualidades que esta traz fora de sua atividade remuneratória: “Você conhece o fulano? Sim, conheço, aquele que é servidor do órgão tal. Sim, é ele”. Um conto chamado “O espelho” de Machado de Assis explica melhor o assunto.
No planeta bizarro, ser cordial, gentil e educado virou sinal de idiotice e de tolice, quando não de ingenuidade. Em dias atuais, abrir a porta do carro a alguém, puxar a cadeira para que alguém se sente é um ato ridículo de pura insignificância. Convidar para ir ao cinema, então, nem se fala.
No planeta bizarro, mais terá aceitação quem tiver um bom carro e estiver usando roupas de grife: por conta das prestações altíssimas, não é raro a pessoa ter um excelente automóvel, todavia ter de vender o almoço para jantar. Ostenta-se e vive-se de aparência.
Sim! Certeza! Vivo num mundo bizarro, em um mundo às avessas!