Quem disse que religião, política e fubebol não se discutem?

No popular, houve-se muito que "religião, política e futebol" não se discute (sic). Na verdade, o dizer não incluía o termo "política", ele só foi incorporado mais tarde, pela elite e pelos próprios políticos, a fim de evitar o debate e os questionamentos político entre as pessoas. Dessa forma, sem o debate, como poderia eu estabelecer meu posicionamento e também aprender com o próximo? Debates ajudam a esclarecer, ajudam no ceticismo, no questionamento. Além do mais, não só a política, mas também a religião e o futebol são passíveis de debates, desde que ambas as pessoas estejam dispostas a não somente falar, mas, antes de mais nada, escutar e aprender. Debatamos, então, sim.







21 de nov. de 2011

Às avessas

“No planeta bizarro, as paredes são portas”. Eram com essas palavras que um narrador (onisciente) descrevia o mundo de um dos inimigos do Super-homem: o Bizarro. Às vezes, sinto-me às avessas, em pleno mundo bizarro.

A música mudou, os modos mudaram, as relações enfraqueceram. Brigas no trânsito acabam em pancadaria generalizada; uma pisada no pé na balada termina em tiroteio; elogio é chamar a mulher de “cachorra”.

Somado ao apelo sexual, programas humorísticos se utilizam da fraqueza, da deficiência física e/ou psicológica de outrem para fazer piada sem graça, porém de fácil aceitação: colocar um viciado em drogas em rede nacional gerou um bom lucro a um desses programas, contudo não houve uma contrapartida quando o mesmo viciado foi preso por portar entorpecente: Será que a emissora está ajudando no tratamento do vício do rapaz? É quase certeza que não. Parece ser bom rir de um gay tolo e paspalhão ou de um negro caricatural. Vamos abrir aspas aqui: não por acaso o negro é representado assim na Televisão brasileira, basta lembrar-se do Grande Otelo e do Mussum. Quem os conheceu afirma que eles tinham recursos técnicos que iam além do "revirar de lábios"  (no caso aqui "beiços") de Otelo ou da hebriedade de Mussum, contudo mais vale para esta sociedade "sem preconceitos" negros caricaturais, banguelos, etílicos e preguiçosos. Fecha aspas. Dentro desta cultura imbecil, há quem passe o domingo dando gargalhadas, assistindo a essas besteiras.

No planeta bizarro, a violência é gratuita. E é nesse sentido que alguns programas trocam salada por "presunto" - como no caso do quadro encabeçado por Ana Maria Braga, na Globo.

No planeta bizarro, mais vale o trabalho da pessoa que ela em si mesma. Lembra-se muito o que se faz profissionalmente e se esquece as qualidades que esta traz fora de sua atividade remuneratória: “Você conhece o fulano? Sim, conheço, aquele que é servidor do órgão tal. Sim, é ele”. Um conto chamado “O espelho” de Machado de Assis explica melhor o assunto.

No planeta bizarro, ser cordial, gentil e educado virou sinal de idiotice e de tolice, quando não de ingenuidade. Em dias atuais, abrir a porta do carro a alguém, puxar a cadeira para que alguém se sente é um ato ridículo de pura insignificância. Convidar para ir ao cinema, então, nem se fala.

No planeta bizarro, mais terá aceitação quem tiver um bom carro e estiver usando roupas de grife: por conta das prestações altíssimas, não é raro a pessoa ter um excelente automóvel, todavia ter de vender o almoço para jantar. Ostenta-se e vive-se de aparência.

Sim! Certeza! Vivo num mundo bizarro, em um mundo às avessas!

9 de nov. de 2011

Filhos da Revolução

Entendo o papel dos estudantes na aquisição de alguns direitos adquiridos por esta sociedade. Compreendo que foi fundamental para a instalação de um estado livre a luta que os estudantes proclamaram contra a ditadura instalada nesta nação. Ditadura esta que durou 20 anos, que cerceou e fez várias vítimas, que desapareceu com outras.

Àqueles que leram e sabem um pouco da história, fica claro que a única saída para nos livrarmos da tirania imposta era a luta armada. E foi nesse sentido que surgiram líderes, hoje esquecidos pelos próprios estudantes, como Carlos Marighela e Carlos Lamarca: os dois mortos pelos militares. E é por causa da luta armada também que vários familiares, ainda hoje, tentam encontrar os corpos de seus entes queridos, ocultados pela opressão.

Foi estudante naquela época a atual Presidenta (isso mesmo, com “a” no final). E ela também foi vítima da ditadura. Mentiu ao ser torturada, mentiu para assegurar a vida dos seus companheiros (estudantes), mentiu para passar a ser, hoje, a figura mais importante desta nação. Foi estudante também , o ex-presidente FHC, porém aqui a história é mais oculta, mais sínica, não vale lembrar: história de traição vista só em filmes conspiratórios. Veio do meio dos estudantes alguns pensadores contemporâneos e ainda vivos, como Frei Beto, autor de várias obras que ratificam o que já escrevi nesse texto. Foi de um Campus da UnB que surgiram bandas como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. Todas com suas músicas de protesto, algumas até hoje tão atuais: “na favela, no senado, sujeira para todo lado”. Vê-se que a classe estudantil já produziu várias figuras emblemáticas.

O grande problema é que - passado os tempos áureos – eles não têm (ou não assumem) mais o papel de protagonista para nossa sociedade. Não se vê mais algo significativo vindo dos diretórios acadêmicos. Pelo contrário, vários desses diretórios foram cooptados por partidos políticos com idéias que vão de encontro com os ideais acadêmicos. As UNE’s da vida só servem mesmo, nos dias atuais, como porta para quem quer angariar algum cargo político qualquer. E nada mais. Não raramente, vê-se  responsável de diretório acadêmico levantar bandeira para candidatos de reputação duvidosa, como no caso de um rapaz chamado Marcos Mourão, aqui de Brasília. É no mínimo antagônico.

Além de não serem mais exemplares, impingiu-se à figura do estudante a imagem do playboy fumador de maconha. Imagem apregoada por um filme que fez bastante sucesso por aqui (Tropa de Elite) e que tem, entre outras cenas que o público tanto adora, o Capitão Nascimento dando vários tapas na cara de um estudante viciado em drogas. A coisa está ruim.

Ora! A partir do momento em que a sociedade incorpora uma imagem negativa de alguém ou de uma classe, nesse caso os estudantes, não há como ela mesma apoiar alguns atos praticados por esta categoria. É nesse sentido que não é raro se ouvir alguém chamando estudante de “vagabundo”.

Não creio que estudante seja vagabundo, creio que falta empenho deles para mudar a sua própria imagem. Atos que nos faz sentir orgulho têm sido coisa rara neste país. Os estudantes tiveram participação ativa nas Diretas Já! Depois vieram os caras pintadas, para retirar um presidente do poder. Num lapso temporal enorme, houve a invasão da reitoria da UnB, por causa de desvio de dinheiro público em que o próprio reitor estava envolvido; e, logo depois, o ato na Câmara Legislativo do DF, em que estudantes protestaram por causa da quadrilha que foi organizada por aqui pelo então governador José Roberto Arruda. Exceção a esses quatro casos, não se fez mais nada.

Imagens de estudantes da USP desrespeitando uma Ordem Judicial são facilmente incorporadas, sobretudo, num tempo em que salta às vistas a idéia de que estamos regredindo em vários campos, especialmente no político. Impressionante mesmo é a música de Renato Russo ser tão atual, apesar de ter sido escrita nos idos dos anos 80: ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da Nação. Preferiria mesmo outra que diz que “somos os filhos da revolução”.

1 de nov. de 2011

Dinheiro e Futebol

Foi assistindo ao jogo do Flamengo, domingo passado, contra o Grêmio que percebi que aqui é realmente o país do futebol, além de ser o país do dinheiro, é claro. Não que eu seja contra o capital, também preciso dele para sobreviver, contudo à sua medida. Nem mais, nem menos. Nem avantajado, nem desprovido. Fico com o caminho do meio: nem oito, nem oitenta.


Não é querer me passar por um falso moralista, demagogo ou hipócrita, mas é que o povo brasileiro tem feito cada uma, que não é duas. E o que transparece é o fato de que avacalhar o Brasil tem sido, nos últimos tempos, o papel tanto do cidadão que vota, quanto do cidadão que é votado. O que vota faz parte do Brasil real; o votado, do Brasil oficial. Um com a camisa do time que ama o outro com terno, gravata e o “colarinho branco”. Um sacaneia de cá o outro desvia de lá. E assim, nessa toada, vamos indo, em buscar de ser um país do “futuro”.


Em um feriado passado, houve uma mobilização. Uma marcha contra corrupção. Aqui em Brasília, 20 mil pessoas se reuniram para protestar contra os fatos recorrentes. 20 mil é um bom número, mostra que estamos tomando consciência de nosso papel como cidadãos.


Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, cerca de 40 mil torcedores se reuniram para...se reuniram para protestar contra o jogador Ronaldinho Gaúcho, que não quis ir jogar no Grêmio por conta de uma proposta mais avantajada que ele recebeu do Flamengo. Bom! O que faz 20 mil pessoas se reunirem contra a corrupção e o dobro se reunir para protestar contra um jogador de futebol? Isso só mostra que somos um país do futebol. Uma ex-governadora desse mesmo estado, Yeda Crussius, foi indiciada por uma série de práticas Ilícitas envolvendo desvio de verba PÚBLICA. Não me lembro de ter visto 40 mil pessoas protestando pela cidade contra a roubalheira.


O ato só não foi mais vexatório, do ponto de vista moral, quando se comparado ao que aconteceu também lá no sul, em Curitiba, em que os torcedores, armados a pau e pedra, invadiram o campo e o quebrara todo, assim como a cidade.


Protestamos pelo nosso time de futebol e nada fazemos pela saúde pública, pela educação de qualidade, pelo fim da corrupção, pela segurança de todos. Falar em segurança, não faz muito tempo que uma juíza de direito foi morta por agentes público e com a munição comprada pelo próprio dinheiro público. E, agora, há um deputado estadual que está se exilando por conta da falta de segurança. Em vez disso, fabricamos dinheiro falso, com a foto de um jogador de futebol, gastamos dinheiro verdadeiro com essas picuinhas e nada fazemos pela desigualdade social. O Brasil real desmoralizando daqui, o Brasil oficial desviando de lá. E assim regredimos.

Uma hipótese: Imaginemos que você trabalha em uma empresa e que ela te paga R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por mês. Daí, surge um outro empreendimento e te oferece R$ 10.000,00 (dez mil reais) mensais pelo mesmo serviço. Por um acaso, leitor, você trocaria de empresas? Se você trocasse, leitor, não estaria sozinha nesta empreitada, estaria acompanhado de mais 40 mil pessoas.

Flávio Rossi

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Ceilândia, DF, Brazil
Posso não concordar com suas palavras, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las - Voltaire