Quase sempre é ruim fazer as coisas com a cabeça “quente”. Nessas horas, para quem redige, a pessoa acaba escrevendo o que não deveria, e corre o risco de magoar muita gente ou de se fundar em opiniões impróprias. Por outro lado, escrever nesse estado faz com que a pessoa emita a sua opinião mais verdadeira sobre, por exemplo, o que acha do mundo, das pessoas, da hipocrisia.
Antes de acontecer qualquer mal com a gente, nunca esperamos mesmo que isso um dia acontecerá conosco. Assistimos aos noticiários e, dispersos, não damos nem atenção aos fatos. Corriqueiros que são, caímos no mundo da mesmice e dos conformados. É assim que atos violentos – assaltos, estupros, assassinatos – se tornam, de uma certa forma, normalidades: afinal de contas, “pimenta no olho do outro é refresco”. Mas um dia acontece e é aí que a vítima cai no mundo da realidade.
No dia, 23/10/2009, fui assaltado. Esse dia, creio, nunca esquecerei. Fui abordado por dois rapazes, que me renderam, levaram meu carro, carteira com vários documentos, celular. Mas, mesmo perdendo todos os bens, sinto-me privilegiado por não ter sido vítima de um seqüestro. Não me bateram - coisa normal -, apenas levaram meus bens. Por mais que tenha passado por este sufoco, ainda assim agradeço por não ter acontecido algo pior: “as coisas nunca estão tão ruins que não possam piorar”. Mas a sensação de impotência incomoda. No momento, é de se chegar a pensar “o que eu sou?” E a vítima acaba chegando à conclusão de que não é nada mesmo. Percebe-se que, mesmo desempenhado o papel de cidadão, pagando imposto e tributos à vontade, não há, não existe segurança alguma, entre outras coisas. A angústia toma conta de si e a sensação de vazio arruína.
E no outro dia, você acorda pensando estar sonhando: “não é possível que isso aconteceu comigo, sou mesmo um impotente!”. E as indagações, as perguntas, os esclarecimentos contínuos e insistentes fadigam.
Coisas simples da vida são obstadas: levantar, pegar seu carro e ir trabalhar; ou deixar seu carro no estacionamento e pegar o metrô, ir à academia, ligar para um companheiro, sair com amigos. Todas essas coisas, corriqueiras, e até simples na vida de qualquer um são tomadas de um valor inimaginável. Coisas simples, mas que só se percebe o quão é importante, quando a ordem é quebrada e alguém o impediu de fazer isso: a beira é mesmo da loucura.
E o que eu fiz de errado? Deixa que eu mesmo respondo: não fiz nada errado. É um direito meu parar em qualquer lugar, é um direito meu como cidadão. O que acontece é que a ordem das coisas se inverte nessa hora: o “vacilão” é o cidadão, é quem está assaltando fez apenas seu papel. Eu não posso imaginar que um direito meu possa ser cerceado e que, ainda assim, eu passe a ser o culpado da história. É esta sensação de medo que faz com que nos tranquemos em grades, condomínios - presos feito culpados. Essa sensação enjaula o cidadão de bem e deixa o marginal à deriva, com toda a liberdade do mundo. E o fato de não ter acontecido algo pior faz até levantarmos a mão para o céu e agradecer, como o se o pior ainda não tivesse acontecido. Os bandidos viram até anjo.
Não, não quero mais responder onde eu estava parado, com quem, em qual lugar. Posso parar e conversar em qualquer lugar, isso é um direito meu e de todos os cidadãos de bem, ao mesmo tempo que é dever do estado oferecer segurança e proteção. Não invertam a ordem das coisas: bandidos, marginais, ladrões, gaturnos são eles e não eu.
Antes de acontecer qualquer mal com a gente, nunca esperamos mesmo que isso um dia acontecerá conosco. Assistimos aos noticiários e, dispersos, não damos nem atenção aos fatos. Corriqueiros que são, caímos no mundo da mesmice e dos conformados. É assim que atos violentos – assaltos, estupros, assassinatos – se tornam, de uma certa forma, normalidades: afinal de contas, “pimenta no olho do outro é refresco”. Mas um dia acontece e é aí que a vítima cai no mundo da realidade.
No dia, 23/10/2009, fui assaltado. Esse dia, creio, nunca esquecerei. Fui abordado por dois rapazes, que me renderam, levaram meu carro, carteira com vários documentos, celular. Mas, mesmo perdendo todos os bens, sinto-me privilegiado por não ter sido vítima de um seqüestro. Não me bateram - coisa normal -, apenas levaram meus bens. Por mais que tenha passado por este sufoco, ainda assim agradeço por não ter acontecido algo pior: “as coisas nunca estão tão ruins que não possam piorar”. Mas a sensação de impotência incomoda. No momento, é de se chegar a pensar “o que eu sou?” E a vítima acaba chegando à conclusão de que não é nada mesmo. Percebe-se que, mesmo desempenhado o papel de cidadão, pagando imposto e tributos à vontade, não há, não existe segurança alguma, entre outras coisas. A angústia toma conta de si e a sensação de vazio arruína.
E no outro dia, você acorda pensando estar sonhando: “não é possível que isso aconteceu comigo, sou mesmo um impotente!”. E as indagações, as perguntas, os esclarecimentos contínuos e insistentes fadigam.
Coisas simples da vida são obstadas: levantar, pegar seu carro e ir trabalhar; ou deixar seu carro no estacionamento e pegar o metrô, ir à academia, ligar para um companheiro, sair com amigos. Todas essas coisas, corriqueiras, e até simples na vida de qualquer um são tomadas de um valor inimaginável. Coisas simples, mas que só se percebe o quão é importante, quando a ordem é quebrada e alguém o impediu de fazer isso: a beira é mesmo da loucura.
E o que eu fiz de errado? Deixa que eu mesmo respondo: não fiz nada errado. É um direito meu parar em qualquer lugar, é um direito meu como cidadão. O que acontece é que a ordem das coisas se inverte nessa hora: o “vacilão” é o cidadão, é quem está assaltando fez apenas seu papel. Eu não posso imaginar que um direito meu possa ser cerceado e que, ainda assim, eu passe a ser o culpado da história. É esta sensação de medo que faz com que nos tranquemos em grades, condomínios - presos feito culpados. Essa sensação enjaula o cidadão de bem e deixa o marginal à deriva, com toda a liberdade do mundo. E o fato de não ter acontecido algo pior faz até levantarmos a mão para o céu e agradecer, como o se o pior ainda não tivesse acontecido. Os bandidos viram até anjo.
Não, não quero mais responder onde eu estava parado, com quem, em qual lugar. Posso parar e conversar em qualquer lugar, isso é um direito meu e de todos os cidadãos de bem, ao mesmo tempo que é dever do estado oferecer segurança e proteção. Não invertam a ordem das coisas: bandidos, marginais, ladrões, gaturnos são eles e não eu.