Tenho escutado várias tipos
de desculpas de muitos para não se mobilizarem. Pessoas com pouca
consciência política se misturam com cidadãos mais esclarecidos, porém menos engajados,
e estes dois grupos (unidos) se utilizam dos mesmos argumentos para não lutarem.
Em muitas das conversas e debates que tive com esses cidadãos, a retórica utilizada
por eles partiam de duas perguntas centrais: “para que protestar” e “por que
não fizeram esta manifestação antes de construírem os estádios”.
Para a primeira pergunta há várias respostas. Argumentar que “o
protesto não vai dar em nada” é por demais pessimista. Protestar para mudar
justamente o estado de coisas que há tempos está implantado neste país. Não se
pode querer uma sociedade melhor sem em ir à luta. Para que tenhamos saúde,
educação e segurança no “Padrão FIFA”, faz-se necessário ir às ruas, levantar a
bandeira: nada vem de graça. Somos uma democracia hoje, com liberdade de
impressa, de expressão, liberdade de se reunir, graças a uns jovens – que num
passado bem recente - se sacrificaram em prol de uma causa, mesmo à custa do
próprio sangue, da própria vida. Esta história todos nós já conhecemos.
Protestar para exigir que não se aumente os vinte centavos na
passagem. Isso mesmo! Talvez vinte centavos não façam falta a você, caro
leitor, mas para o trabalhador, que ganha um mísero salário mínimo, faz muita
diferença, no final do mês. Além do mais, multiplique vinte centavos por dois
(ida e volta) e depois multiplique por milhões de usuários dos ônibus. Agora,
tente perceber que os milhões arrecadados com o famigerado aumento não vai se
transformar em benefício algum para o usuário. Entende a indignação? Protestar contra
corruptos que sugam, surrupiam e desviam o dinheiro do estado. “Mas esta
mudança tem de vir nas urnas!” Claro que sim, meu caro leitor, mas como bem
disse o grande amigo e mestre Marcos Pacco, “nas urnas o que manda é poder
econômico”.
“Por que não fizeram estes protestos antes dos estádios serem
construídos?” O fato de o Brasil ter sido escolhido como Sede da Copa do Mundo
de 2014 foi comemorado quase que por todos os brasileiros. Junto com os
estádios de primeiro mundo viriam também a infraestrutura de um país de
primeiro mundo. A promessa de melhores serviços públicos, de melhores estradas,
de transporte público de qualidade, de hospitais condizentes com a carga
tributária que pagamos, assim como um sistema educacional que abarcasse não só
todos os brasileiros, mas que viesse arraigado também de qualidade, foi posto
no nosso imaginário. Ratificamos o evento. Talvez esta fosse a única chance de
vermos um país melhor, mais justo, mais solidário, mais sério. Todos nós
sabíamos que a Copa não sairia barata aos nossos bolsos, sabíamos que os
estádios iriam custar caro, mas tínhamos - mesmo assim - a esperança de um país
melhor. Vieram os estádios, alguns passaram a custar o dobro do que foi falado
pelos nossos administradores. Um caso bem emblemático é o estádio aqui de
Brasília, que inicialmente custaria 700 milhões e terminou na cifra do 1,5
bilhão.
A indignação só veio agora porque - com toda dinheirama
derramada no estádio - não vieram as obras de infraestrutura, obras que iriam
favorecer a todos. Só agora se pôde perceber que, mais uma vez, fomos
enganados. Não creio que haja tempo certo para se manifestar, creio que haja
motivos. O estopim foi o aumento da passagem de ônibus, mas os motivos, como já
explicado, são vários, que vieram se acumulando ao longo do tempo e que só
agora explodiu de vez. Foi a “gota d’água” para mostrarmos ao mundo que não
somos apenas o país do futebol, samba e carnaval.
Sempre acreditei que algo teria de mudar. Sempre acreditei
que esta hora ia chegar, fosse por meio de revolução civil, fosse por meio de
outra ditadura militar. Ainda bem que está vindo por meio da sociedade civil,
não só por estudantes, mas por todos. O gigante acordou. Faça a sua parte,
então. Manifeste-se, pois a causa também
é tua. A luta é nossa!