Aprenderá desde criança, com o pai, que nunca deveria retroceder. Seu pai, Armínio, um religioso, truculento, por vezes usava mais a emoção que a razão, e tentava passar os ensinamentos àquela criança inocente. Até mesmo na escolha do nome do filho, Armínio não retrocedera, havia uma lista de nomes a escolher: Braga, Doriz, Prudêncio, Varney, Brunetti, Lenício. Escolheu Prudêncio, mesmo com a recusa da mãe, Rosália.
Os ensinamentos, como já dito, vinham desde menino. Outro dia, chegou da escola com um material escolar que não era dele, fato que revoltou a mãe: “- Prudêncio, amanhã, quando você chegar à escola, devolva o material que você pegou”. O pai, que insistia em interferir na educação então falava: “- Não, filho, você não vai devolver nada, não retroceda, não peça desculpas...”
Coisas simples da vida, como dar licença para outra pessoa passar, não fazia parte de Prudêncio e muito menos de sua educação. Uma vez, foram a um parque, desses urbanos que ficam no meio das cidades. Na pista de Cooper, quase bateu de frente com um maratonista, mas não se desviou do caminho, pensou: “- daqui eu não saio”.
Cresceu. Teve sempre uma boa educação escolar. Estudou em escola de ponta., mas era costume, por exemplo, sumi coisas de dentro de casa. Uma vez, a mãe colocou o troco de uma certa compra em cima da televisão, cerca de R$ 52,00, sumiu. A mãe perguntou: “- Prudêncio, você pegou o dinheiro que estava aqui?” O que ele responde de pronto: “- não, mãe”.
Formou-se. Conseguiu o primeiro emprego. Subiu de cargo, chegou a supervisor. Nesta posição, tinha a fama de teimoso. Mesmo que estivesse tomando a decisão errada, não voltava atrás. Batia o pé e ia em frente. Até então, suas decisões de líder trouxera, mesmo que amparado pela sorte, benefícios para empresa. Chegou à chefia . E continuou tomando suas decisões, sempre desamparada da razão. Até que um dia deu um grande prejuízo à organização e foi dispensado. Outra vez pensou: "- fiz o que achava que era certo e não volto atrás, não volto."
Desempregado, resolveu então dar outro rumo à sua vida. Decidiu partir para a política, mas antes resolveu pedir um conselho ao pai acerca do ramo escolhido: “- Vá em frente, filho. Você tem um futuro brilhante, mas lembre-se de nunca retroceder, meu teimosinho”. Candidatou-se e na base da truculência, da demagogia e da hipocrisia conseguiu o posto de deputado.
Foi então que lhe faltou, mais uma vez, a ética. Resolveu, para o bem de si, se envolver nas maracutaias, nos conchavos, nos conlulios, nas jogatinas mais baixas só para angariar preciosos dividendos. Conseguiu muito dinheiro até o dia em que estourou a operação “Pega ladrão”. Os vídeos mostravam-no desviando dinheiro público, colocando maços dentro da meia e das cuecas. Ao se questionado, pela imprensa, sobre as acusações que pesavam sobre ele, Prudêncio então respondeu magistralmente: “- Peguei sim, coloquei dinheiro dentro das minhas vestimentas porque não uso malas ou bolsas”.
A teimosia do pai fez do filho um biltre, gatuno, pandilha...um infame.