Quem disse que religião, política e fubebol não se discutem?

No popular, houve-se muito que "religião, política e futebol" não se discute (sic). Na verdade, o dizer não incluía o termo "política", ele só foi incorporado mais tarde, pela elite e pelos próprios políticos, a fim de evitar o debate e os questionamentos político entre as pessoas. Dessa forma, sem o debate, como poderia eu estabelecer meu posicionamento e também aprender com o próximo? Debates ajudam a esclarecer, ajudam no ceticismo, no questionamento. Além do mais, não só a política, mas também a religião e o futebol são passíveis de debates, desde que ambas as pessoas estejam dispostas a não somente falar, mas, antes de mais nada, escutar e aprender. Debatamos, então, sim.







26 de jul. de 2011

Em Defesa de Uma Língua Nacional.

Muito se discutiu acerca de um livro, a ser distribuído pelo MEC, que tinha como conteúdo supostos erros de português. Já escrevi algo sobre o assunto neste blog, contudo volto ao tema para reforçar minha posição. E minha posição vai de encontro à posição dos gramáticos, puritanos, que defendem a Língua portuguesa e não a Língua Brasileira.


Então, é fato relevante lembrar aqui que nem mesmo entre eles próprios há concordância, pacificação, sobre várias matérias. Simples: peguem as gramáticas existentes hoje e pesquise o que cada uma deles fala sobre o que é uma oração, por exemplo. Posso garantir que não há duas gramáticas com definição semelhante.


Não é necessário fazer um curso de Licenciatura em língua portuguesa para se saber que, por vezes, escrever bem é escrever com clareza e não necessariamente certo. A língua verbal, a falada, sobretudo, também segue essa regra. “Respeitando-se regras básicas da gramática, a fim de evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis”. Celso Pedro Luft, citando um texto de Luís Fernando Veríssimo, chamado “O gigolô das palavras”, lembra-nos muito bem o fato.


Confundir o estudo da língua com estudo da gramática é um erro freqüente dos conservadores. Eles não consideram a língua como um meio de comunicação, que é atual, que é viva, que é eficiente. E, por isso mesmo, por não aceitar as modificações, as adaptações, as evoluções dela de acordo com o contexto de cada um, tratam seus falantes como deficientes da própria língua. Ao se defender uma gramática, que é cristalizada, que não acompanha o tempo, o lugar, o espaço; que não evolui, aleija-se seu falante e subjuga-o dentro de seu próprio estado nacional. É por aí que freqüentemente se veem e ouvem-se pessoas falar que “não gosta de português” ou que tem dificuldade em aprender “português”. Como uma pessoa não gosta da própria língua natural-nacional? Como uma pessoa que está falando a língua, se comunicando, não sabe ou tem dificuldade em aprender a própria língua? Percebe-se que entramos então num problema de conflito de identidade.


“Escrever bem é escrever claro, não necessariamente correto”. Falar bem é falar com clareza, não necessariamente correto, adiciono aqui minhas palavras em favor da tese de Luft. Ou alguém já ouviu algum professor de português, seja ele quem for, falar com seus alunos na segunda pessoa do plural: “Alunos, vós sois vencedores. Credes que passaram e assim sereis!”. A segunda pessoa do singular e do plural já não fazem parte de nossa língua há muito tempo. No lugar delas, entrou o “você”, que era um pronome de tratamento e não um pronome pessoal. E para a alegria geral da língua nacional, o tal do você (pronome de segunda pessoa) se apoderou de verbos da terceira pessoa. Vejam só: eu sou; tu és; você é; ele é. Pronome de tratamento conjulga verbo? O que fazem os defensores da gramática-lusitana-puritana aceitar essa evolução da língua que não os deixa aceitar outros tipos de adaptações? A clareza faz com que falemos vi ele e lhe vi no lugar o vi (ouvi); vi ela em vez de vi-a (via) Toda língua evolui, a gramática não, infelizmente. A gramática é parada no tempo, assim como a mesóclise.

Como meio de comunicação, a gramática tem de ser estudada como sendo parte da língua e não como sendo a língua em si. A língua abarca muito mais que a gramática, ela é o cerne da questão. E toda língua evolui, e toda evolução lingüística começa com “erros”.


Para finalizar¹, concluo que o título das gramáticas daqui deveriam trocar o nome. Creio que não falamos português e sim BRASILEIRO. Lingua portuguesa submete-nos a quem nos colonizou e a quem nunca fez nada pela educação deste país - hoje maior em todos os aspectos que o antigo colonizador. Portanto, aqui, deveria adotar-se a Gramática da Língua Brasileira e não a Gramática da Língua Portuguesa. A Portuguesa, deixe que Portugal discute-a e estude-a, ao seu padrão Eurocentrista. E nem vou entrar na questão se é mesmo Brasileiro ou Brasiliano, como sustentou Stefhen Kanitz. Isso é assunto para uma outra abordagem.



1 – Segundo o vernáculo lusitano-puritano-ordotoxo, eu não posso finalizar um texto dizendo que vou “finalizar”, muito menos concluír. Espiem! A mãe pergunta ao filho: “Fulano, você já terminou a tarefa?” Ao que o filho responde: “Estou quase, mas não posso falar”. (risos)

Referência: Língua e Liberdade – Celso Pedro Luft.

Flávio Rossi

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Posso não concordar com suas palavras, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las - Voltaire