O telejornalismo brasileiro anda em baixa. É que por quase todos os canais TV abertos que se queira assistir sempre há uma certa parcialidade na informação. Esta, direito do cidadão, quase nunca pode ser levada tão a sério pelos telespectadores, senão comete-se o risco de se julgar sem o pleno conhecimento de causa.
O embate é antigo: de um lado a Rede Record do líder Edmar Macedo, bispo e proprietário da Igreja Universal do Reino de Deus; do outro, a Rede Globo de Televisões, da família Marinha, dona do monopólio televisivo brasileiro há várias décadas, desde a ditadura, quando Roberto Marinho ganhou a concessão. Em jogo, o monopólio dos olhares e o monopólio da fé, em detrimento do bom jornalismo e da boa informação.
Atualmente, a denúncia que pesa sobre a cúpula da Igreja Universal é a de apropriação do dinheiro arrecadado em cultos para compra de imóveis, segundo relatório da Coaf – Conselho de Controle de Atividades Financeiras. O relatório foi anexado a outra denúncia do Ministério Público: o uso de doações de fiéis para abastecer empresas ligadas à Igreja. As supostas falcratuas estão sendo muito bem exploradas pelo Jornalismo Global, que, como urubu na carniça, se delicia ao ver a podridão do adversário e ocupa grande parte do Jornal da noite para abordar esses fatos, com veemência até.
Em contra-ataque, jornalismo da Record explora - além do envolvimento das Organizações Globo com aquisições indevidas do dinheiro público para Fundação Roberto Marinho e emissão de notas fiscais falsas - o passado obscuro da Rede Globo. Ontem, exibiu uma reportagem longa mostrando trechos de um documentário chamado “Além do Cidadão Kane”.
Conto: Cidadão Kane foi um longa-metragem de 1941, baseado na vida do magnata do jornalismo William Randolph Hearst. Conta a história de Charles Foster Kane, um menino pobre que acaba se tornando um dos homens mais ricos do mundo. Pois bem. O documentário faz uma comparação entre Kane e Roberto Marinho, que foi “além” daquele. Produzido pela Televisão Britânica em 1993, aborda a posição dominante da Globo na sociedade brasileira e, mais que isso, a influência que ela (ou ele, Roberto Marinho) exerce nas relações políticas do pais: há quem credite o fato de Fernando Collor ter sido eleito por causa da manipulação havida no último debate com o então adversário Lula, de forma que Collor pareceu ser mais “simpático” à massa (o resultado já é sabido). Tem entre outras personalidades nos relatos Chico Buarque e o antigo sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva - ainda sem a produção dos marketeiros.
Enquanto os dois canais de TV se digladiam, os telespectadores se transformam em reféns de informações meramente midiáticas e com o propósito apenas de desqualificar uma a outra. Não há outro o objetivo para as duas emissoras que não seja o “lucro”. A informação em si, que deveria ser objetivo principal da atividade jornalística, fica em segundo plano. O que está em jogo é, de um lado, a perpetuação de um monopólio da televisão brasileiro, o que gera um bom dividendo; e do outro, a exploração da fé com o fim de angariar vantagens pessoais, mesmo que isso prejudique de certa forma, fiéis. Esperemos sentados então, e com o controle remoto na mão, a próxima edição da novela “briga por dinheiro”.
Um comentário:
falando sério... a Record vai demorar muuuito tempo, pra bater audiência da Globo. O sonho da Record e ter a audiência, há algumas décadas. Record sempre imita programas da Globo. Fora, que a maioria dos telespectadores já esta acostumando com a programação da Globo. Enquanto elas ficarem se alfinetando, ontem (16/08/2009) o programação que se deu bem foi a do Pânico na TV... =)
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