Foi assistindo ao jogo do Flamengo, domingo passado, contra o Grêmio que percebi que aqui é realmente o país do futebol, além de ser o país do dinheiro, é claro. Não que eu seja contra o capital, também preciso dele para sobreviver, contudo à sua medida. Nem mais, nem menos. Nem avantajado, nem desprovido. Fico com o caminho do meio: nem oito, nem oitenta.
Não é querer me passar por um falso moralista, demagogo ou hipócrita, mas é que o povo brasileiro tem feito cada uma, que não é duas. E o que transparece é o fato de que avacalhar o Brasil tem sido, nos últimos tempos, o papel tanto do cidadão que vota, quanto do cidadão que é votado. O que vota faz parte do Brasil real; o votado, do Brasil oficial. Um com a camisa do time que ama o outro com terno, gravata e o “colarinho branco”. Um sacaneia de cá o outro desvia de lá. E assim, nessa toada, vamos indo, em buscar de ser um país do “futuro”.
Em um feriado passado, houve uma mobilização. Uma marcha contra corrupção. Aqui em Brasília, 20 mil pessoas se reuniram para protestar contra os fatos recorrentes. 20 mil é um bom número, mostra que estamos tomando consciência de nosso papel como cidadãos.
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, cerca de 40 mil torcedores se reuniram para...se reuniram para protestar contra o jogador Ronaldinho Gaúcho, que não quis ir jogar no Grêmio por conta de uma proposta mais avantajada que ele recebeu do Flamengo. Bom! O que faz 20 mil pessoas se reunirem contra a corrupção e o dobro se reunir para protestar contra um jogador de futebol? Isso só mostra que somos um país do futebol. Uma ex-governadora desse mesmo estado, Yeda Crussius, foi indiciada por uma série de práticas Ilícitas envolvendo desvio de verba PÚBLICA. Não me lembro de ter visto 40 mil pessoas protestando pela cidade contra a roubalheira.
O ato só não foi mais vexatório, do ponto de vista moral, quando se comparado ao que aconteceu também lá no sul, em Curitiba, em que os torcedores, armados a pau e pedra, invadiram o campo e o quebrara todo, assim como a cidade.
Protestamos pelo nosso time de futebol e nada fazemos pela saúde pública, pela educação de qualidade, pelo fim da corrupção, pela segurança de todos. Falar em segurança, não faz muito tempo que uma juíza de direito foi morta por agentes público e com a munição comprada pelo próprio dinheiro público. E, agora, há um deputado estadual que está se exilando por conta da falta de segurança. Em vez disso, fabricamos dinheiro falso, com a foto de um jogador de futebol, gastamos dinheiro verdadeiro com essas picuinhas e nada fazemos pela desigualdade social. O Brasil real desmoralizando daqui, o Brasil oficial desviando de lá. E assim regredimos.
Uma hipótese: Imaginemos que você trabalha em uma empresa e que ela te paga R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por mês. Daí, surge um outro empreendimento e te oferece R$ 10.000,00 (dez mil reais) mensais pelo mesmo serviço. Por um acaso, leitor, você trocaria de empresas? Se você trocasse, leitor, não estaria sozinha nesta empreitada, estaria acompanhado de mais 40 mil pessoas.
Um comentário:
Já dizia um imperador por aí um tempinho atrás: "...Ad populum panis et circensis..."
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