“Deus é pai, não é padrasto”. “Madrasta é tão má que já começa com ma ”. “Amanhã, é dia de branco.” Quem não consegue enxergar preconceito nesses dizeres populares, não precisa continuar lendo este texto, pois falarei justamente disso. Tentarei mostrar aqui como todos nós espalhamos intolerância sem nem mesmo perceber. Aliás, quem nunca falou um desses ditados citados que atire a primeira pedra. Sempre quis uma oportunidade para debater a história que vou contar aqui. Pretendo, assim, suscitar o debate a fim de que cheguemos a duas conclusões: a de que preconceitos devem ser cortrdos pela raiz e, também, que a escola é um dos canais para que isso aconteça.
Uma amiga postou esta história no seu facebook:
- Professora, você sabe qual a religião do bode?
- Não, disse a professora.
- Bodista.
- oh!
-E a do cão?
-Também não sei.
-Cãodoblé?
-oh!
-Tá bom, fessora, vou parar.Mas só mais uma: e a religião do gato?
-NÃO SEI!
-Gatólico. (Risos)
Primeiro, devo deixar claro que não estou aqui para defender nenhuma matriz religiosa, seja ela qual for.
Segundo, é fato histórico que religiões minoritárias vêm, continuadamente, sendo perseguidas e massacradas por religiões dominadoras. É histórico também que uma das formas de minimizar, rebaixar, suprimir essas religiões é tentar demonizá-las, mesmo que estas doutrinas sejam 5 mil anos mais velhas que as outras. O medo é uma forma de se conseguir adeptos. E não há figura que traga mais medo para humanidade que o demônio. Claro, Para aquelas religiões que acreditam que ele existe. Pois bem. Dito isso, passo para representatividade dos bichos citados pelo aluno.
Leitor, por um acaso, qual a imagem primeira que vem à sua cabeça quando você imagina como diabo, demônio, capeta devem ser? Será que é a imagem de um bicho com chifres tortos, com patas um tanto estranhas, rabo? Seria, por um acaso, um bode? Se tua resposta for sim, passe para outra pergunta. Se for não, pule para o penúltimo parágrafo.
Leitor, por um acaso, CÃO é um sinônimo também para diabo, demônio, capeta? Se sim, passe para outra pergunta. Se for não, pule para o penúltimo parágrafo, com exceção para as mulheres, que devem ler a próxima pergunta mesmo que a resposta seja negativa.
Leitora, esta pergunta é só para vocês, mulheres lindas, maravilhosas, geniais. Sem vocês, mulheres, nós, homens, não seríamos nada... Voltando! Leitora, que imagem vem à sua cabeça quando você se lembra de um gato? Deixa que eu respondo: a única certeza é a de que você não se lembra do demônio algum e muito menos do bichano que vocês criam em casa. Portanto, deixe seus pensamentos vis para outra hora e voltemos ao raciocínio.
Estranhou-me o paralelo traçado pelo aluno para fazer a associação entre certos bichos e as suas devidas religiões. Não creio que seja mera coincidência, não creio também que o próprio aluno tenha tirado isso da sua mente. Fico, então, com a premissa de que ele escutou isso de alguém e, involuntariamente, repassou dentro de sala de aula. E vai continuar transmitindo caso nada seja feito. Tanto é assim que as palavras Candomblé e Católico começam com as mesmas letras – CA, mas o animal cão ficou como representante da religião perseguida. Ao passo que gato, esse animal lindo...
Penso que é assim que começamos a semear certas intolerâncias. Sem perceber, saímos falando por aí que “Deus é pai e não padrasto”, ou que “madrasta é má porque já começa com má”ou que “amanhã é dia de branco”. No primeiro caso, a generalização é grosseira. É o mesmo que dizer que TODOS os padrastos do mundo são mal. No segundo caso, a idiotice é tamanha que chega a arrepiar. Explica-se o porquê de um parente por afinidade ser má por conta de apenas uma sílaba. “Amanhã é dia de branco” alimenta a idéia de que só um povo constrói esta nação, enquanto os outros povos não trabalham, curtem preguiça e, portanto, não passam de vagabundos.
Levantados todos esses problemas, o que devemos fazer para dar o fim em alguns mitos ruins que permeiam nossa cultura?
O mal deve ser cortado pela raiz e a escola deve ser o canal para cortar essas correntes, que, como praga, se espalham rapidamente, incutem-se na cabeça do povo e, logo, viram herança cultural, com força de verdade. A escola tem o dever ser o espaço para se discutir todos as crenças, ela deve respeitar todos os credos e passar ao aluno que todas as religiões têm o seu valor. Deve ensinar, ainda, que a cultura alheia é intangível, portanto, devemos respeitá-la. A escola deve assegurar a diversidade cultural no Brasil.
Mas não é só isso. Não é somente a escola que tem o dever de ensinar aos seus alunos o respeito ao próximo. Os pais são o espelho do filho. Um pai que respeita o próximo certamente terá um filho que o seguirá no mesmo pensamento. Ao passo que aquele que desrespeita também poderá ter um filho que desrespeite. Aos pais cabe também o dever de passar ao filho o respeito às variedades religiosas e culturais. São essas variedades que nos fazem diferentes e são justamente essas diferenças que devem ser toleradas.
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