Foi-se o tempo em que Gilberto Gil podia cantar o verso que diz que “O Rio de Janeiro continua lindo” sem se sentir constrangido, creio. Não que o Rio de Janeiro tenha perdido sua beleza natural, mas o que salta as vistas de todo o país é o fato de a cidade não ser, nem de longe, maravilhosa.
As imagens captadas pelas redes de TV são claras: estamos em guerra. Tão em guerra que a desordem aqui chega a ser mais densa, mais trágica do quem em países em plena guerra civil, como o Haiti.
Tanques da força naval subindo o morro, passando por cima de carros em chamas, anunciam o que a população brasileira pode esperar em poucos dias: uma hecatombe. E de cá fica sempre a esperança de que o lado bom vencerá e de que tudo terminará bem, mesmo que para isso tenhamos de ver corpos e corpos espalhados pelo chão. Mas...qual o lado bom mesmo?
Enfim, uma ação conjunta dos governos federal e estadual foi posta em prática. Era esse o clamor de uma população ávida de justiça desde a inauguração das ocupações dos morros, muito bem retratada no filme Cidade de Deus. São mais de 30 anos de descaso do poder público, que nunca imaginou que aqueles favelados ousariam um dia ir para o asfalto (linguagem deles) para atacar justamente a burguesia. Foi só quando a elite percebeu que a coisa estava tomando proporções inesperadas que começou então a se tentar fazer políticas públicas voltadas para o combate do crime organizado: se, por ventura, os marginais não tivessem atacado a burguesia, esse assunto não seria também retratado na televisão e nem estaria em pauta. Podem ter certeza disso.
O fato é que só a ocupação do morro, pelas Unidades Pacificadoras, não resolverão o assunto. Instalar posto policial transmite segurança, mas não ajuda a recuperar a dignidade da população local. É preciso muito mais que força policial, faz-se necessário, juntamente com as UPP’s, a instalação (acima de tudo) de escolas e de hospitais e junto com eles profissionais qualificados. Faz-se necessário a criação de postos de empregos para a inclusão das pessoas que ali moram. Faz-se necessário saneamento básico. Faz-se necessário uma limpeza dentro do próprio governo para prender os corruptos que estão infiltrados nele.
O noticiário, que se fala hoje nas várias mídias, vende-nos a idéia de que a culpa é somente dos traficantes que estão ali, quando na verdade é um conjunto de malfeitorias como, por exemplo, a própria omissão dos políticos, a falta de segurança nas fronteiras deste país – não faz duas semanas que dois Policiais Federais foram mortos no Rio Solimões por traficantes estrangeiros, essas mortes não mereceram destaque na TV. Além do mais, necessita-se inicializar uma discussão pública, entre os vários setores da sociedade, a cerca da legalização de algumas drogas ilícitas e discutir também o fato de haver muitos usuários em circulação: quem alimenta o tráfico, quem financia-o é justamente o usuário, o doente. O problema é de saúde pública também.
Legalizar drogas é tema polêmico, mas adianto aqui que isso quebraria as pernas do tráfico, portanto seria uma solução viável. Fora isso, começar a internar quem se encontra viciado, porque lugar de doente é no hospital, isolado.
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